quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Terá de se apresentar ao "monarca" de baraço ao pescoço!...



JESUS E O DILEMA DA FORMAÇÃO

«Desde a sua controversa mas bem-sucedida experiência no Benfica que Jorge Jesus está associado à imagem do treinador que, por querer ganhar no imediato, não considera prioritário o trabalho com a formação. Essa característica terá mesmo traçado o seu destino na Luz. A famosa mudança de paradigma que Luís Filipe Vieira queria fazer não era possível de concretizar com Jesus, sobretudo após o treinador ter ganho dois campeonatos seguidos, devolvendo o Benfica à glória.

Jesus, sejamos claros, é o responsável pela fama que tem. Não só ficaram célebres algumas das suas tiradas – "têm de nascer 10 vezes", quando disse não ver como encontrar no Seixal um substituto para Matic, entretanto vendido ao Chelsea –, como algumas das suas acções, mesmo que não tenham absoluta correspondência com a verdade – de que é exemplo a utilização nos treinos do agora cintilante Bernardo Silva no lugar de defesa-esquerdo.

No Sporting, clube com um ADN diferente, Jorge Jesus potenciou vários jogadores criados em casa e que nestes dois anos se tornaram muito melhores. É o caso flagrante de Adrien ou de João Mário. É verdade que, sem medo, lançou e fez crescer Gelson e Rúben Semedo, mas não é menos verdade que desenhou ao longo das duas épocas plantéis maduros de acordo com a sua filosofia de jogo – não apenas no plano táctico, mas também de uma certa ideia competitiva. Isso explica centrais robustos, talvez um eufemismo para Douglas, extremos velozes, avançados móveis e com capacidade de serem uma primeira força de bloqueio à acção dos adversários.

Em geral, Jorge Jesus prefere jogadores mais tarimbados para essas funções e isso explica contratações, por exemplo, como as de Bruno César ou Coates. O problema é que Jesus, e também Bruno de Carvalho, cometeram esta época muitos erros e reforços que o deveriam ter sido revelaram-se flops absolutos. Essas entradas, feitas à custa da dispensa, definitiva ou para rodar, de talentos da Academia, indiciavam que o clube estava na linha que o treinador preconiza.

Basta comparar o plantel desta época com os que estiveram à disposição de Leonardo Jardim ou Marco Silva e é fácil perceber que a formação tinha perdido espaço de afirmação.

A decisão de Bruno de Carvalho de ‘emagrecer’ agora a equipa fazendo sair os pesos mortos e regressar Palhinha, Podence ou Geraldes é boa para o clube numa perspectiva de médio prazo, leia-se já na próxima época.

E, ninguém duvida, que apesar dos lamentos mais ou menos velados, o passo atrás para dar dois em frente, Jesus não só entende muito bem o que se está a passar, como sabe que, para ser de novo competitivo na próxima época, terá de fazer crescer depressa os jovens leões e cirurgicamente reforçar a equipa em sectores chave com jogadores feitos.

Uma realidade não é incompatível com a outra. Deixa é de haver margem para experimentalismos. É uma dura lição deste péssimo ano.»


Só por cegueira, má fé e um formidável pelotão de "ismos" de índole da mesma raíz e natureza, o diagnóstico veiculado pelo coro uníssono da degradada comunicação social cá da nossa aldeia sobre a "actualidade leonina", se situa nos antípodas da lúcida análise de Nuno Santos. Pelo que nunca o título das suas crónicas - Ângulo Inverso - se terá revestido de tamanha propriedade quanto hoje! Andará pelas ruas da amargura a inteligência, a perspicácia, a sagacidade dos nossos jornalistas, que continuam, estupidamente, a malhar em ferro frio! Tão estupidamente quanto estúpidos serão os mandantes!...

Da "dura lição deste péssimo ano", utilizem-se as palavras mais simpáticas ou agrestes ao jeito da personalidade de cada um, o facto incontornável que resulta depois de bem espremido o limão azedo que Jorge Jesus e só e apenas ele, entendeu colher, é que de forma irreversível terminou o seu ciclo de "manager" quase plenipotenciário em Alvalade! Levada pelo vento do fracasso a coroa que com pouco inteligente vaidade e pobre discernimento o treinador exibiu ao longo de época e meia, resta-lhe agora e apenas a bem tratada cabeleira grisalha e a forçada humildade de ter de prestar vassalagem perante a única coroa que resta no "império"!...

E o mais curioso e inusitado da situação em Alvalade é que terá sido o próprio JJ a contribuir, quiçá decisivamente, para este inesperado, serôdio e porventura irreversível triunfo do absolutismo sobre o liberalismo, absolutamente à margem, senão mesmo em confronto, com o nosso tempo.

E entra-nos pela porta dentro a maior verdade que Nuno Santos se arriscou, com a inteligência com que nos costuma brindar, a afirmar na sua crónica: "Jorge Jesus para ser competitivo na próxima época, terá de fazer crescer depressa os jovens leões e, cirurgicamente, reforçar a equipa em sectores chave com jogadores feitos"! Mas...

Terá de se apresentar ao "monarca" de baraço ao pescoço!...

Leoninamente,
Até à próxima

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