SPORTING PARA ALÉM DE... BRUNO E JESUS
«Quando digo que o Sporting não pode estar entalado entre os mundos de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, isto é, entre aquilo que possam a ser duas visões com pontos de divergência relativamente à gestão do futebol profissional, quero dizer fundamentalmente que o Sporting precisa de construir uma base estrutural mais sólida e mais activa para que não seja tão necessária a intervenção directa e permanente quer do presidente quer do treinador, com o desgaste que isso representa para ambos.
O sucesso de uma equipa de futebol, embora esteja publicamente muito relacionado com a qualidade e competência de treinadores e jogadores, e do poder de decisão de um presidente, vive muito dos ‘apoios invisíveis’ — de uma ampla estrutura que dê respostas às principais questões colocadas no âmbito de áreas tão sensíveis e tão vitais como são as técnico-desportivas (scouting, Academia, etc.), as de gestão/finanças, marketing, comunicação, etc.
Em 2016-17, o Sporting passou ao lado de todos os seus objectivos e, em Fevereiro, já se pode falar de uma época falhada. Há vários motivos que se podem elencar para justificar o fiasco, mas há um que foi determinante: a (má) escolha dos jogadores para, supostamente, reforçar o plantel.
Este tem sido, aliás, um dos maiores problemas do Sporting, ‘a.B’ e ‘d.B’, isto é, antes e depois do consulado de Bruno [de Carvalho]. O Sporting sempre foi um clube ligado à Formação, mesmo quando não tinha infra-estruturas para sustentar essa sua vocação, mas foi mesmo muito raro conseguir tirar partido, desportiva e financeiramente, dos muitos jogadores que formou ao longo dos tempos. O Sporting pagou o preço deste desconchavo.
Com Bruno de Carvalho, assistimos logo de início a uma tentativa do presidente capturar e chamar a si o dossiê das contratações, impondo alguma pressão sobre Leonardo Jardim e principalmente Marco Silva, com aquisições nada conseguidas (Cissé, Shikabala, Magrão, Maurício, Gauld, Slavchev, Rabia, Sarr, etc); com a entrada de Jorge Jesus em Alvalade, a que correspondeu à transformação de um simples treinador numa espécie de ‘manager’ (oficioso), o presidente abdicou de uma parte significativa do seu poder nestas matérias, mas a verdade é que as escolhas, entre compras e empréstimos, tirando o caso indiscutível de Bas Dost, revelaram-se pouco acertadas. O Sporting, nos últimos anos, conheceu quatro casos de maior sucesso (Slimani, B. Ruiz, Coates e Bas Dost) e, de resto, tem sido a ‘prata da casa’ a fazer a diferença (Rui Patrício, R. Semedo, William Carvalho, Adrien, Gelson, para além de João Mário, entretanto vendido). Há agora o caso de Alan Ruiz, que aparece finalmente a dar sinais de que pode ter representado um investimento interessante e vamos ver o que podem dar Matheus, Podence e Francisco Geraldes, mais Iuri Medeiros, todos na rampa de lançamento para uma possível afirmação na equipa ‘leonina’. A percentagem de falhanços foi muito elevada, relativamente às aquisições fechadas no final do pretérito mês de Agosto, e disso cada qual tem de saber tirar as suas ilações e assumir as respetivas responsabilidades. Por isso, volto a dizer: o Sporting — a capacidade de resposta do futebol do Sporting — não se pode esgotar nem no presidente nem no treinador. Tem de haver mais ‘mundo’ (muito mais do que aquele que já existe) e isso é uma responsabilidade de todos, se for possível acalmar os respectivos egos.
O Sporting tem um presidente apaixonado, diligente e com ‘faro’. Contudo, essa paixão e essa vontade de não deixar escapar nada tornaram-no muitas vezes excessivo, cometendo erros primários. A recusa em fazer ‘pontes’ e a tese da vitimização aumentaram as vulnerabilidades. Bruno de Carvalho, jogando ao ataque, quando às vezes se recomenda toada de maior contençao, é mais facilmente atacado. E é nisto que lhe venho apontando um dos seus maiores defeitos: a sua falta de dimensão institucional.
O Sporting tem um dos melhores treinadores da história do futebol português e isso não deve ser escamoteado, em nome de certos interesses. Não é por acaso que, não obstante as máquinas de propaganda que para aí pululam no sentido de sublinhar e amplificar as ‘boutades’ de Jorge Jesus, são os jogadores que trabalharam com ele a sublinhar-lhe os méritos. Ainda agora, entre muitos outros, tivemos nesse sentido os testemunhos de Elias (um não titular!) e Javi García. No campo, é dos melhores!
Estas duas figuras (Bruno de Carvalho e Jorge Jesus), unidos ‘ab initio’ por um compromisso de betão, podem discutir cada qual, em surdina, questões de maior ou menor poder. Perda de tempo. Ambos, tão virados para si próprios, terão a capacidade de perceber e alcançar que o Sporting necessita de algo mais, para além de um presidente e de um treinador?... Nesse aspecto, o Benfica leva grande avanço.»
«Quando digo que o Sporting não pode estar entalado entre os mundos de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, isto é, entre aquilo que possam a ser duas visões com pontos de divergência relativamente à gestão do futebol profissional, quero dizer fundamentalmente que o Sporting precisa de construir uma base estrutural mais sólida e mais activa para que não seja tão necessária a intervenção directa e permanente quer do presidente quer do treinador, com o desgaste que isso representa para ambos.
O sucesso de uma equipa de futebol, embora esteja publicamente muito relacionado com a qualidade e competência de treinadores e jogadores, e do poder de decisão de um presidente, vive muito dos ‘apoios invisíveis’ — de uma ampla estrutura que dê respostas às principais questões colocadas no âmbito de áreas tão sensíveis e tão vitais como são as técnico-desportivas (scouting, Academia, etc.), as de gestão/finanças, marketing, comunicação, etc.
Em 2016-17, o Sporting passou ao lado de todos os seus objectivos e, em Fevereiro, já se pode falar de uma época falhada. Há vários motivos que se podem elencar para justificar o fiasco, mas há um que foi determinante: a (má) escolha dos jogadores para, supostamente, reforçar o plantel.
Este tem sido, aliás, um dos maiores problemas do Sporting, ‘a.B’ e ‘d.B’, isto é, antes e depois do consulado de Bruno [de Carvalho]. O Sporting sempre foi um clube ligado à Formação, mesmo quando não tinha infra-estruturas para sustentar essa sua vocação, mas foi mesmo muito raro conseguir tirar partido, desportiva e financeiramente, dos muitos jogadores que formou ao longo dos tempos. O Sporting pagou o preço deste desconchavo.
Com Bruno de Carvalho, assistimos logo de início a uma tentativa do presidente capturar e chamar a si o dossiê das contratações, impondo alguma pressão sobre Leonardo Jardim e principalmente Marco Silva, com aquisições nada conseguidas (Cissé, Shikabala, Magrão, Maurício, Gauld, Slavchev, Rabia, Sarr, etc); com a entrada de Jorge Jesus em Alvalade, a que correspondeu à transformação de um simples treinador numa espécie de ‘manager’ (oficioso), o presidente abdicou de uma parte significativa do seu poder nestas matérias, mas a verdade é que as escolhas, entre compras e empréstimos, tirando o caso indiscutível de Bas Dost, revelaram-se pouco acertadas. O Sporting, nos últimos anos, conheceu quatro casos de maior sucesso (Slimani, B. Ruiz, Coates e Bas Dost) e, de resto, tem sido a ‘prata da casa’ a fazer a diferença (Rui Patrício, R. Semedo, William Carvalho, Adrien, Gelson, para além de João Mário, entretanto vendido). Há agora o caso de Alan Ruiz, que aparece finalmente a dar sinais de que pode ter representado um investimento interessante e vamos ver o que podem dar Matheus, Podence e Francisco Geraldes, mais Iuri Medeiros, todos na rampa de lançamento para uma possível afirmação na equipa ‘leonina’. A percentagem de falhanços foi muito elevada, relativamente às aquisições fechadas no final do pretérito mês de Agosto, e disso cada qual tem de saber tirar as suas ilações e assumir as respetivas responsabilidades. Por isso, volto a dizer: o Sporting — a capacidade de resposta do futebol do Sporting — não se pode esgotar nem no presidente nem no treinador. Tem de haver mais ‘mundo’ (muito mais do que aquele que já existe) e isso é uma responsabilidade de todos, se for possível acalmar os respectivos egos.
O Sporting tem um presidente apaixonado, diligente e com ‘faro’. Contudo, essa paixão e essa vontade de não deixar escapar nada tornaram-no muitas vezes excessivo, cometendo erros primários. A recusa em fazer ‘pontes’ e a tese da vitimização aumentaram as vulnerabilidades. Bruno de Carvalho, jogando ao ataque, quando às vezes se recomenda toada de maior contençao, é mais facilmente atacado. E é nisto que lhe venho apontando um dos seus maiores defeitos: a sua falta de dimensão institucional.
O Sporting tem um dos melhores treinadores da história do futebol português e isso não deve ser escamoteado, em nome de certos interesses. Não é por acaso que, não obstante as máquinas de propaganda que para aí pululam no sentido de sublinhar e amplificar as ‘boutades’ de Jorge Jesus, são os jogadores que trabalharam com ele a sublinhar-lhe os méritos. Ainda agora, entre muitos outros, tivemos nesse sentido os testemunhos de Elias (um não titular!) e Javi García. No campo, é dos melhores!
Estas duas figuras (Bruno de Carvalho e Jorge Jesus), unidos ‘ab initio’ por um compromisso de betão, podem discutir cada qual, em surdina, questões de maior ou menor poder. Perda de tempo. Ambos, tão virados para si próprios, terão a capacidade de perceber e alcançar que o Sporting necessita de algo mais, para além de um presidente e de um treinador?... Nesse aspecto, o Benfica leva grande avanço.»
Ao longo da leitura desta crónica de Rui Santos, reparei ser incapaz de retirar da minha mente dois nomes que, repetidas vezes, a foram martelando sem piedade nem descanso, de resto imerecido, tal a sua grandeza e sportinguismo e a inexpugnabilidade do local onde os guardo para sempre no meu coração.
E tudo porque subscrevendo em absoluto a conclusão a que RS muito facilmente chegou: "... o Sporting necessita de algo mais, para além de um presidente e de um treinador", a roda da vida encarregou-se de me mostrar que afinal haverá mesmo impossíveis...
Esta dupla inesquecível de dirigentes sportinguistas de alta estirpe, desfez-se vai para cinco anos com a partida de Manolo Vidal, cuja justa homenagem continua, inexplicavelmente, por fazer em Alvalade. E de José Manuel Torcato nunca mais tive o privilégio de ouvir falar e já não terá idade nem paciência para afrontar tamanho desafio!...
Há quem diga que não há insubstituíveis! Mas eu penso que a ideia de RS será muito difícil de levar à prática no curto prazo, se atentarmos à realidade que a actualidade leonina nos apresenta: tal como um Cristiano Ronaldo não aparece todos os dias, com dirigentes desta dimensão passar-se-à exactamente o mesmo!...
E depois, "mesmo que novos valores se alevantem", quando os lideres, reconhecidamente, se apresentam "tão virados para si próprios", será que alguma vez "terão a capacidade de perceber e alcançar aquilo que o Sporting necessita"?!...
Então talvez estejamos mesmo condenados a continuar a esfregar as mãos e a assegurar, carregados de convicção mas cada vez menor em cada ano até que acabe por não ser nenhuma, que "para o ano é que é"! Porque...
Há quem já o tenha percebido e alcançado!
Leoninamente,
Até à próxima
Diz-se que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis...
ResponderEliminarSó que há uns que embota também já no cemitério..."são mais insubstituíveis" do que outros...
Os que o amigo Álamo refere..estão "nesse lote"...!!
Que Saudades...!
SL
Verdade amigo Max. Que saudades!...
EliminarTenho todo o respeito por aqueles que, nas mesmas funções, hoje procuram oferecer ao Sporting o melhor de si próprios. Mas a dimensão da nossa saudade explica que haverá alguma diferença...
SL
Tentar tapar o sol com a paneira ou recorrer a eufemismos para retratar incompetências de BdC enquanto dirigente máximo do futebol do Sporting servirá apenas para prolongar o sofrimento.
ResponderEliminarNos últimos tempos JJ vem sendo criticado insistentemente, o que se compreende. Contudo, essa parece ser também uma estratégia para desresponsabilizar BdC dos insucessos do Sporting. Bem sei que as eleições estão à porta e que muitos já expressaram várias vezes neste fórum o seu (legítimo) apoio ao candidato BdC. Mas há que chamar as coisas pelo nome.
Além de reconhecer as virtudes e agradecer os serviços de MV, JMT e outros grandes dirigentes do passado, socorro-me das palavras de RS para afirmar sem pruridos que BdC tem sido um líder fraco e um gestor medíocre em "áreas tão sensíveis e tão vitais como são as técnico-desportivas (scouting, Academia, etc.), as de gestão/finanças, marketing, comunicação, etc."
Há dias, respondendo a uma senhora, referi que o problema principal do futebol do Sporting não são os sucessivos insucessos mas antes a (falta de) estratégia que tem conduzido a esses insucessos. Já que aquela resposta não foi publicada, direi agora que o problema maior reside no mentor da suposta estratégia - BdC.