quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Que a gratidão acompanhe sempre Quaresma!...


Um leão resgatado à indiferença

«Tem sempre um argumento suplementar nas lutas que assume: é forte nos despiques directos, inteligente a fechar diagonais defensivas, perfeito a avaliar tempos de contenção e desarme; não perde a marcação em zonas problemáticas e, apesar do acerto posicional cada vez mais depurado, assenta em impressionante velocidade de deslocamento, com a qual recupera o terreno perdido por alguma imprecisão cometida na abordagem – ou pelo superior talento de quem lhe surge pela frente. É um óptimo gestor da vantagem que corrige falhas instantaneamente. Aos 21 anos, é internacional português em todos os escalões entre os sub-15 e os sub-21. Prometeu muito mas não cumpriu tudo. Está perante nova e surpreendente oportunidade para atingir o topo.

Eduardo Quaresma já sentiu as consequências de comportamentos desviantes das responsabilidades como central. Não se trata de ser brilhante em determinado momento mas de fazer sempre o que deve; de ser indispensável reagir ao erro e dar continuidade aos gestos; nunca perder a concentração e manter-se em alerta máximo permanente. É muito novo para tanta e tão profunda desilusão em tão curso lapso temporal mas, à luz da actualidade, a afirmação falhada pode tê-lo consolidado como homem e futebolista.

EQ viu aumentada a responsabilidade perante o treinador (que confia nele), os adeptos (que se sentem arrebatados pela sua vitória) e sobre ele próprio (erguido de um buraco de dúvida e descrédito). Titular do Sporting, confirmadas qualidades técnicas, físicas e tácticas, precisa agora de focar-se nas benesses do tempo; de interpretar a relevância da continuidade dos actos para consolidar a autoconfiança; de crescer segundo a convicção de que o prestígio cada vez maior pode ser a mola impulsionadora de um futuro brilhante e não apenas o álibi para se desleixar na evolução. EQ tem a responsabilidade de assimilar os efeitos desta segunda vida como elemento de uma autoridade mais consistente e não como sinal prematuro de apogeu.

O compromisso com o jogo, o orgulho na profissão e a ilusão de ser alguém na vida; a regularidade na acção, a eficácia crescente em tudo quanto faz e o súbito consenso à volta do seu futebol devem funcionar como consolidação de competências, jamais como sinal de uma plenitude fictícia. EQ vive hoje a felicidade do reconhecimento consensual; da fase exuberante de uma carreira resgatada ao crivo do preconceito, da desmotivação, da indiferença e até da injustiça. Terá de inspirar-se nos altos e baixos do caminho já percorrido, nas agruras de uma viagem enquadrada por sonho, esperança e decepção, para entender que esta vitória pode não ser definitiva para a conquista maior que é atingir o topo da escala futebolística.

A saída de Alvalade não deixava antever a renovação da confiança de Rúben Amorim, mesmo manuseando valores fundamentais a qualquer central do futebol moderno: é um condutor exímio, articulado, seguro, que conquista terreno com a bola dominada; que chega aos factos segundos antes de ocorrerem e cria desequilíbrios pela excelência de visão e passe. Se puder, amigo leitor, veja outra vez o jogo com o FC Porto e delicie-se com uma exibição monstruosa, ideal para figurar em qualquer enciclopédia de como estar e agir em campo.

EQ não é um fenómeno só porque foi perfeito no clássico. Mas o nível exibido em tão ilustre palco não permite interpretar o momento como o dia de sorte de um futebolista qualquer. Continuará a haver quem desconfie e profetize novo retrocesso à afirmação plena. É mais justo admitir que, a jogar como tem feito desde então, em breve poderá ser uma referência como central...»

Aqui do meu canto, não retirando uma vírgula ao excelente texto de Rui Dias - que só surpreenderá quem ainda não teve a felicidade de o descobrir! - permitam-me colmatar uma lacuna por ele deixada por razões que só o próprio saberá, mas que me impõem a consciência e a justiça: Eduardo Quaresam terá tido a suprema fgelicidade de se cruzar com Rúben Amorim na fase mais importante da sua carreira! A não ser assim, receio bem que Rui Dias nunca chegaria a escrever o texto de hoje. Porque Edu ficaria pelo caminho como dezenas e dezenas de outros!...

Foi o talento do lapidador que salvou o diamante em bruto que lhe chegou às mãos!...

Que a gratidão acompanhe sempre Quaresma!...

Leoninamente,
Até à próxima

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