terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Atenção Leão, cuidado com o incenso!...


Demasiado grandes

«Na véspera de receber o Benfica, o treinador do Estrela da Amadora, Sérgio Vieira, chamou a atenção para um facto que ilustra bem a diferença competitiva entre as duas equipes, logo à partida: só na aquisição de um dos jogadores que comprou nesta época de Inverno, o Benfica gastou o dobro de todo o orçamento anual do Estrela. O jogador em questão, Marcos Leonardo, entrou para jogar os últimos 15 minutos e ainda a tempo de fechar a contagem de 4-1, num jogo em que foi justamente a diferença de valores individuais a decidir o desfecho. E para trás ficou assim a "exibição top" contra o Estoril, como a definiu Roger Schmidt, e a queda do Benfica na Taça da Liga.

Também afastado na meia-final da Taça da Liga, mas pelo Sp. Braga e muito injustamente, o Sporting reapareceu em Alvalade para devorar o Mamma Mia – perdão, o Casa Pia. A última vez que me lembro de ter assistido a um resultado de 8-0 no campeonato foi num F.C. Porto-Belenenses de uma primeira jornada, em que um mágico chamado Rabah Madjer assinou quatro golos e, como era de esperar, logo ali lançou os portistas para um título incontestável. Parece-me bem que este Sporting vai no mesmo e imparável caminho. É, claramente, a melhor equipa do campeonato, a que melhor e mais simples joga, que melhores soluções de ataque constrói, que melhores jogadores tem e com um treinador que é simultaneamente jovem, ambicioso e sábio. Duvido muito que na hipótese pouco provável de o Sporting não conseguir ganhar nada esta época, alguém naquela casa – direcção, adeptos, jogadores – permita que Rubem Amorim cumpra a sua promessa de ir embora. Claro que ganhar é importante e não ganhar nada com esta equipe seria uma frustração, mas o homem tem trabalho à vista e, como diz o meu amigo Sousa Cintra, pôs a equipa a jogar o futebol que o povo gosta. Em nome de quê iria embora?

Para não destoar e antecipadamente, também o FC Porto começou por assinar um belíssimo jogo e um triunfo sólido em Faro, cujos números finais só não foram mais expressivos pelas interferências do VAR. Foi o quarto jogo consecutivo de ‘normalidade’, isto é, a jogar no único sistema que melhor aproveita os jogadores que tem e dispondo os melhores em cada posição. Problema: só tem aqueles e mais nenhum. Quando olho para os bancos de suplentes do Benfica, do Sporting e mesmo do Sp. Braga, sinto uma inveja tremenda comparando com o nosso. Enquanto eles dispõem de jogadores em quantidade e qualidade para substituírem os titulares em qualquer altura do jogo, mudando ou não mudando o esquema, nós vamos emprestando os suplentes a preços simbólicos de 250 ou 300.000 euros a época e sentamos no banco um acervo de provadas nulidades. Se algum dos titulares se magoa ou é castigado, não há alternativa à altura – nenhuma. E, enquanto eles estiveram bem atentos e actuantes nesta oportunidade extra de compras, nós (com a excepção de que abaixo me ocupo), estivémos quietinhos, não por falta de necessidade, mas por estado de necessidade.

Como quer que seja, e fazendo o resumo desta jornada e das anteriores, vemos uma progressiva dificuldade dos pequenos em disputar pontos aos grandes. Uma só venda estratosférica ao exterior de um dos grandes permite-lhe depois ir às compras no mercado interno e roubar à carteira dos pequenos os seus melhores valores, desequilibrando ainda mais a relação de forças existente. E como tarda, se é que algum dia virá, a centralização de direitos televisivos, que possa assegurar um pouco mais de competitividade entre uns e outros, o panorama só tende a agravar-se e não o contrário.

Quem é este Otávio?

Desde que Iván Marcano, titularíssimo no centro da defesa portista, se lesionou para um ano inteiro, que a SAD do FC Porto sabia que tinha de ir ao mercado para comprar um central, pois que apenas dispunha, como efectivo de valor indiscutível, Pepe, que está a dias de fazer 41 anos. Mas passaram cinco meses até entrar Janeiro e nem um passo foi dado nesse sentido. E correu todo o mês de Janeiro até chegarmos ao dia de hoje, último dia do mercado de Inverno, e parece que só hoje é que o FC Porto vai finalmente apresentar um reforço para o centro da defesa. Trata-se, informam-nos (ou informavam-nos ontem), de Otávio, do Famalicão. Quem? Otávio, outro Otávio... Confesso, nunca dei por ele: se o vi jogar, não reparei; se lhe vi algum elogio na imprensa, escapou-me. Mas deve ser um craque, só pode ser: vem por 10 milhões e esse preço por um central, no mercado interno, só mesmo o David Carmo, essa preciosidade. Reparem que há um ano o Sporting pagou menos por Diamonde, um excelente central, que espera vender por bastante mais em Junho, e agora vai pagar 4 milhões por Koindredi, um magnífico médio de ataque do Estoril. Temo, infelizmente, que estejamos perante mais um daqueles misteriosos negócios da SAD portista, em que até se pagam comissões na compra. Até pode ser que este rapaz Otávio com o tempo se venha a revelar um excelente reforço, oxalá, mas é difícil entender que um jogador que em Junho custou 500.000 euros ao Famalicão, passados sete meses sem dar nas vistas se tenha valorizado 10.000%! E que com seis meses para resolver o assunto, esta tenha sido a melhor solução que a SAD encontrou, dentro ou fora de portas. Irá Pinto da Costa dizer outra vez que foi Sérgio Conceição que a impôs?

A renovação
Olhei para a bancada de honra do S. Luís, em Faro, e não consegui deixar de sorrir: lá estavam alinhados nas suas gravatinhas azul-bébé Pinto da Costa, Lourenço Pinto e Adelino Caldeira: a "renovação". Aliás, já no jantar-ritual destinado a ‘convencer’ Pinto da Costa a recandidatar-se pela 16ª vez e onde, como eu sempre previ, ele lá fez o esforço, o sacrifício, o martirío, de ceder ao apelo lancinante, constatando que, mais uma vez não havia no horizonte ninguém válido que suceder lhe possa, a ‘renovação’ era o que mais abundava por ali. Eram tudo caras novas, jovens, desapegadas de quaisquer interesses que não o de servir o clube desinteressadamente, virgens de passado comprometedor e prenhes de futuro a prometer. Porque será então que entre tanto azul e doirado, tantos bolos e parabéns, curvaturas e vénias, tudo aquilo me pareceu velho, gasto e alheio?»

Atenção Leão, cuidado com o incenso!...

Leoninamente,
Até à próxima

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