terça-feira, 17 de outubro de 2023

Quem não gosta põe na borda do prato!...


Europeu, Mundial e falta de vergonha

1 - Finalmente temos uma Selecção que joga um futebol que vale a pena ver. É verdade que os adversários destes oito primeiros jogos da fase de qualificação para o Euro'2024 foram fracos e fraquinhos (a Bósnia chegou a ser confrangedora!), mas antes, em jogos destes, andávamos à roda, à roda, para trás e para a frente, parecendo que o golo era uma construção complicadíssima. Agora, como se viu nas primeiras partes dos jogos contra eslovacos e bósnios, acabaram-se as cerimónias e os rodriguinhos e joga-se para o golo, de forma simples ou trabalhada, mas francamente eficaz. Agora temos finalmente uma Selecção que faz justiça à mais talentosa e abundante geração de jogadores de qualidade superlativa que talvez jamais tenha estado disponível. É que, para além dos 24 já com lugar cativo de Roberto Martínez, sobra ainda uma dúzia com valor para lá estar e fazer boa figura.

É verdade que Cristiano Ronaldo, por crença do treinador ou por imposição do próprio, é um dos que tem lugar cativo e a titular, mas definitivamente a equipa (talvez com a excepção de João Félix) parece ter-se libertado da ditadura ronaldiana, em que era obrigatório todos passarem sempre a bola ao capitão, sem esperarem retribuição à medida. E isso tem consequências num futebol muito mais solto, muito mais variado e muito mais produtivo. Ronaldo lá continua, a jogar para os seus recordes, cobrando em exclusivo os penáltis, facturando golos fáceis e falhando outros fáceis, sistematicamente batido no um para um, já sem a velocidade de outros tempos, mas o talento dos outros chega para compensar as suas falhas e até para o ajudar a acrescentar as suas estatísticas. Já não é a equipa que não vive sem Ronaldo, é ele que não vive sem a equipa. De igual modo, e como estava à vista desde há muito, o onze vive muito melhor sem Bernardo Silva, cujo desempenho no City se eclipsa por completo na Selecção: contra a Eslováquia, fez figura de corpo presente e mesmo assim não fez falta; contra a Bósnia, esteve ausente e a equipa agradeceu, pois João Félix foi incomparavelmente melhor.

Do mesmo modo e olhando para os dois jogos, Danilo foi melhor que Palhinha, que só sabe destruir, Inácio muito melhor que António Silva e Otávio magnífico, tal como João Cancelo, nas três posições diferentes em que Martinez o utilizou. Mas, como sempre, o grande talento desta Selecção foi Bruno Fernandes, um jogador absolutamente excepcional, assistindo, rematando e facturando como ninguém, na função de "médio volante", como dantes se dizia. É um verdadeiro prazer ver Bruno Fernandes jogar à bola!

A vontade agora era que o Euro estivesse já ali, ao virar da esquina, de tal maneira esta equipa parece sôfrega para ir atrás do sucesso. Quando se tem a sorte de ter tantos e tão bons jogadores e um treinador capaz de explorar o talento de cada um, o céu é um limite óbvio. E ter de esperar é um inferno.

2- Mesmo a calhar, um trabalho do Expresso veio-nos recordar uma das heranças do Euro 2004: o Municipal de Braga, o célebre Estádio da Pedreira, tão louvado por todos e tão incómodo para os espectadores. A 'obra de arte' já vai em 1,2 milhões de custo, entre construção, derrapagens e manutenção, tudo usufruído pelo Sporting de Braga e suportado pela Câmara Municipal de Braga - isto é, pelos contribuintes. Em desespero de causa, a Câmara quer agora vendê-lo ao clube pelo preço simbólico de 15 milhões. Mas, mesmo assim, não é certo que o clube o queira comprar, pois que, se o Sp. Braga dispõe de alternativa (o Estádio 1º de Maio), já a Câmara não: quem quererá comprar um estádio? E este é apenas um dos elefantes brancos que sobraram, inúteis, desse festim de novos-ricos que foi o Euro'2004: Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro também têm estádios novos e vazios desde que a festa acabou.

Razão pela qual, eu, que sempre fui e escrevi contra o Euro'2004, olho com profunda desconfiança para o Mundial de 2030, de que seremos parceiros menores na festa, mas maiores na despesa. Como de costume, garantem-nos que o retorno financeiro será incomparavelmente maior que a despesa. Pois, talvez. Mas se o retorno for privado e a despesa pública, eu dispensaria bem o Mundial - sobre o qual ninguém nos consultou previamente. Já estou farto de pagar impostos para as festas dos outros.

Os prémios que envergonham

Dêem as explicações que derem, as mais atrapalhadas e contraditórias, os factos falam por si. O primeiro facto é que a SAD do FC Porto acaba de apresentar um prejuízo no seu último exercício de 47,6 milhões de euros, comparando com os lucros de 4,2 milhões do Benfica e 25,2 milhões do Sporting. E, para premiar aquilo que o administrador financeiro Fernando Gomes considerou "um sucesso financeiro", depois de pedir mais um empréstimo pagando o juro mais alto que alguém paga no mercado, ele e os restantes administradores receberam de prémio 1,6 milhões.

O segundo facto, tal como ilustrado ontem pelo Record, é que, nos últimos cinco exercícios, entre vencimentos e prémios, os administradores portistas receberam um total de 13,2 milhões, contra os 3,9 dos benfiquistas e os 2,4 dos sportinguistas. Mas no mesmo período de cinco anos em que se fizeram remunerar tão principescamente, os administradores portistas viram o rival Sporting acumular 28,9 milhões de lucros, o Benfica 22,9, e eles... 114,8 de prejuízos, elevando a dívida para 530 milhões. Um 'sucesso' digno de ser premiado.

Pois claro que não vai embora

Não admira que Pinto da Costa diga que podem esperar sentados que ele saia pelo próprio pé. Aquele lugar reúne várias características únicas: é um 'tacho' fantástico; não exige nem responsabilidades nem consciência atormentada; respondem perante um universo submisso e que nada questiona; e, no fim, quem se seguir, fecha a porta. Lá vamos, pois, assistir mais uma vez àquele ritual ridículo da Comissão de Recandidatura, com as mesmas eternas múmias paralíticas a suplicarem a P.C. que faça mais um 'sacrifício' de três anos, visto que, como ele sabe, não há ninguém, mais capaz de gerir aquilo como só eles sabem.

Mas também já era altura de os que aspiram ao lugar, como André Villas-Boas, se deixarem de cortesias e dúvidas filosóficas e terem a coragem de dizerem que vão a jogo, porque vão e porque não é possível esperar mais.»

Quem não gosta põe na borda do prato!...

Leoninamente,
Até à próxima

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