Um viking com fogo nas botas
«Teve impacto imediato no Sporting: versatilizou o padrão em que assenta o ideário de Rúben Amorim e, numa equipa de posse, que privilegia o jogo posicional e o ataque organizado, acrescentou soluções que permitem diversificar e até simplificar o processo ofensivo. É esse o resultado prático da introdução na engrenagem de um avançado caracterizado por traços largos, mesmo que mais imprecisos, cujo benefício é alimentar o jogo directo. Viktor Gyökeres personifica acrescento estratégico a um futebol mais programado, sistematizado, coerente e previsível. Não desvirtua o estilo, diversifica-o; não é corpo estranho, é resposta em situações mais delicadas; não é insolúvel na engrenagem, é complementar ao processo instituído.
À qualidade de deslocamentos mais amplos e constantes, que requerem elementos físicos concretos (força, velocidade, resistência), acrescenta o dom da criatividade, o domínio competente dos espaços curtos, a noção global do jogo e um instinto goleador jamais danificado. VG caracteriza-se por intensidade, abrangência e acção continuada mas, ao contrário da maioria, é sereno, seguro e eficaz – oito golos em nove presenças resumem excepcional arranque de temporada.
Interfere pouco no desenvolvimento da produção colectiva mas dá soluções no último terço do campo; não contribui para a elaboração do jogo mas, só por presença, estabelece regras diferentes para a própria equipa. É extraordinário que esteja, lute, corra, choque e dê saída lógica sempre que é chamado a intervir; é inacreditável fazê-lo durante hora e meia, sem quebras de intensidade e eficácia. Possui técnica no estado mais puro, coordenação motora perfeita, força incomensurável, potência demolidora e resistência que chega a parecer sobre-humana.
Ao cabo de três meses em Alvalade já mostrou o essencial. Foi um jogador de impacto imediato, à volta de quem nasceram dúvidas e se criaram expectativas. A principal estranheza é ter vindo para o Sporting. Que raio de dirigentes, directores desportivos, treinadores, observadores e scouts existem em Inglaterra para permitirem que um clube português furte uma estrela a brilhar-lhes à frente do nariz? Que ideia peregrina abdicarem de gastar verba acessível aos seus cofres abonados para, em breve, serem impelidos a despender fortunas pelo mesmo alvo. O enigma, mesmo considerando que a decisão de VG foi ditada pela sedução que o projecto verde e branco lhe mereceu, é só haver dois tipos de jogadores que não podem oferecer dúvidas: os muito bons e os muito maus. O sueco encanta por ser autêntico e sem subterfúgios. Veremos se o perfume do seu futebol é suficiente para hipnotizar tubarões sempre famintos.
Aos 25 anos, com a formação concluída mas numa fase em depuração de qualidades, tem ainda margem para evoluir. Johan Cruyff costumava dizer que os treinadores se dividem entre os que treinam e os que ensinam. Rúben Amorim, que conjuga as duas artes referidas, já conseguiu, em três meses, que o avançado se tornasse titular da selecção da Suécia e valorizasse mais de 20M€ no mercado.
VG é um rio agitado que corre com ímpeto; já se conhecem as margens que o enquadram e os locais por onde passou. Falta agora saber, com toda a precisão, em que mar desaguará. Não é, e provavelmente nunca será, o melhor do Mundo; nem é líquido que, no fim da época, valha os 100M€ da cláusula de rescisão. O mais sensato é ir por etapas: para já tem o valor da raridade, é o melhor jogador da Liga e tem armas para vir a ser ainda melhor. Ao dia de hoje, há muitas potências europeias que não têm um ponta-de-lança como ele, um viking com fogo nas botas...»
A "medalha de ouro" de Hugo Viana!...
Leoninamente,
Até à próxima
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