A grande farra
«No estado a que chegou o futebol português já pouco adiantam as análises casuísticas. Agora que chegámos ao debate das tomadas desligadas, do apagão e do VAR de critérios intermitentes, estamos perto daquele ponto em que se mete toda a fauna dentro de um barco, com a quilha partida, o leme avariado, e se larga tudo no mar alto. Estamos na fase da grande farra.
Ao fim de quatro jornadas, o futebol português caminha a passada larga para a irrelevância. Já só serve para uma boa paródia de entretenimento. A situação não é casuística, nem fica apenas a dever-se a uma arbitragem incompetente, que o é. O problema é sistémico. A Liga portuguesa está transformada numa liga de traficantes e no território de uma luta apocalíptica pelo poder. Um poder institucional e um poder do subsolo, de contornos mafiosos.
Quando a generalidade dos protagonistas trafica comissões, percentagens, concessões, contratos, apuramentos, subidas e descidas, pontos, favores ou apoios, não há leituras suaves. Os penáltis dos Taremis da Liga, ou os esquemas de presidentes que criaram o escol da simulação e do embuste, simbolizados por Pinto da Costa, Vieira ou o felizmente passado Carvalho, são as trágicas metáforas de um pântano que vai afundar o futebol português, se nada inverter o actual caminho.
O Sporting conseguiu renascer das cinzas, com Frederico Varandas. O Benfica tem um caminho estreito, com Rui Costa, para fazer esquecer a simbiose de Vieira com o pior de Pinto da Costa. Mas a crise do FC Porto pode arrastar todos para o fundo, porque vai desvalorizar toda a Liga. Com Pinto da Costa na recta final, os grupos de interesses libertaram-se. O clube está entregue a quem manda nos esquemas das transferências, portanto, aos comissionistas, a uma dívida gigantesca, à erosão reputacional em curso, à necessidade imperativa de ser campeão, por força das novas regras da Champions. Está também sob o assédio de um assalto à cidadela por parte de outros grupos de influência na cidade e no mundo portista. Estes, escolheram, erradamente, atacar Sérgio Conceição que, com todos os defeitos, ainda é o único activo capaz de dar algum rumo ao clube. Como treinador, no limite, como presidente. Terá de mudar radicalmente alguns traços da sua personalidade mas o universo do Dragão, qualquer dia, já só cabe na sua capacidade de criar equipas ganhadoras. E esse também é o seu dilema. Terá de saber separar as águas, entre o seu poder e o de uma estrutura que se afunda na mais completa ausência de credibilidade. Pior: ante a gargalhada geral, essa arma poderosa que sempre dissolveu o pedantismo, a prepotência e a arrogância. No fundo, sempre estoirou com a generalidade de farsantes que vão alimentando as pantominas, no futebol ou na política.»
Em tempos de "grande farra", o triunfo da decência!...
Força Frederico Varandas!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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