quinta-feira, 14 de setembro de 2023

"Às vezes, de uma fraca moiteira, sai um bom coelho"!...


O Leopardo

«Por muito que se façam conferências repletas de lantejoulas e mediocridades brilhantes para se falar de futebol, por melhores que sejam as intenções de inovar, modernizar e elevar esta indústria, a verdade é que, se repararem bem no nosso desporto-rei, parece que nada mudou e, pior que isso, a quase ninguém interessa que as coisas mudem.

O Príncipe de Salina, D. Fabrizio Corbera, quando em 1860 Garibaldi desembarcou na Sicília, sentiu no imediato que a sua classe aristocrática tinha sentença terminal. O triunfo da burguesia era uma ameaça, contudo, em vez de estupidamente resistir e lutar contra algo que o destino determinava, compreendeu que era melhor para a sobrevivência do seu ‘status’ ser condescendente e aceitar uma revolução que acabaria por não tocar em nada. Daí vem a máxima que imortalizou o personagem principal da obra-prima prima de Tomasi di Lampedusa, ‘O Leopardo’: "É preciso que tudo mude, se quisermos que tudo fique como está".

Para começar, olhem para o VAR e há tanto tempo que digo que o futebol devia usar o que o râguebi introduziu para valorizar a verdade desportiva. O árbitro comunicar no momento para o estádio e para quem está em casa o que sustentou a sua decisão. Porque não está já este sistema instalado? Porque se calhar é crível que adorariam ter José Pratas a fugir de um monte de jogadores. O VAR é um instrumento de auxílio eficaz se for bem gerido mas não pode cometer os mesmos erros de fora-de-jogo do Casa Pia- Sporting. Mas é ideologia cimentada descredibilizar o VAR para tudo ficar na mesma.

Depois, o tempo de jogo. Era público e notório que a nossa Liga era das piores da Europa em tempo de útil de jogo. Assim se entendeu fazer crescer o cronómetro mais 8, 12 ou 20 minutos, o que fosse necessário para recuperar o tempo perdido. Ora, o que dizem agora os dados até à quarta jornada publicados pela Liga Portugal? Que a média de duração dos jogos aumentou 5 minutos, todavia, o tempo útil de jogo (e é para isso que servem estes prolongamentos) cresceu ridiculamente 43 segundos. Sei que neste momento o caro leitor se está a rir, pois já entendeu que fizeram um enorme foguetório para ficar tudo na mesma.

E sobre a centralização dos direitos televisivos que é tema fracturante? O Benfica pela voz de Rui Costa e Luis Mendes já veio avisar que o clube não pode sair prejudicado. Frederico Varandas, mais discreto, também afiançou que o Sporting não pode perder o que tinha e, portanto, é tempo de perguntar quem é a alma que vai enfrentar neste dossier os poderes estabelecidos? Ninguém. Porque a todos interessa que tudo fique na mesma. "Se estás parado, és apenas um seixo no riacho", ouve-se na genial série da HBO, ‘Winning Time: The rise of the Lakers dinasty’. Se ainda não perceberam, é assim que vai o futebol português.»

"Às vezes, de uma fraca moiteira, sai um bom coelho"!...

Leoninamente,
Até à próxima

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