«A última semana noticiosa relativa ao Sporting confirmou que a única coisa que funciona bem com precipitação é mesmo a chuva ou, dito de outra forma menos sarcástica, atestou que os alarmistas são precipitados por natureza. Há meia dúzia de dias não faltava, de facto, quem censurasse Frederico Varandas e Hugo Viana por, supostamente, não terem sido capazes de oferecer, atempadamente, os reforços reclamados pelo treinador Rúben Amorim. Foi traçado um cenário apocalíptico e Varandas foi então especialmente vergastado por aqueles que acham vexatório que um presidente de um clube magnânimo como é o Sporting vá, imagine-se, a Inglaterra negociar a contratação de um avançado sueco e, logo depois, arrisque voltar sem ele, como se o desembarque solitário o deixasse desagasalhado e completamente indefeso.
Claro que Varandas teria sido endeusado pelo seu dinamismo se fizesse como outros presidentes do passado que esperavam que os contratos estivessem assinados e depois usavam charters privados (que os clubes alugavam por bom dinheiro) para poderem recolher e depois exibir os ‘troféus’ recém-garantidos. O presidente leonino e Hugo Viana também passariam melhor no crivo dos paladinos do supérfluo se fizessem como outros responsáveis que conseguem entrar nas zonas de acesso restrito dos aeroportos e depois acabam por sair todos ufanos e amaneirados ao lado dos carrinhos com as malas dos craques contratados, como se tivessem tido papéis indispensáveis nas operações – como insinuam junto dos jornalistas que são previamente inteirados da chegada dos reforços.
A verdade é que o tempo mostra detalhes que a precipitação não foi capaz de enxergar. E a comprová-lo aí está a certeza de que o ponta-de-lança Gyökeres e o lateral direito José Ángel Carmona irão chegar muito a tempo de participarem no estágio que o Sporting inicia em Lagos dentro de quatro dias, não estando excluída a possibilidade de o mesmo acontecer com o médio defensivo que irá ser contratado para ocupar a vaga deixada por Ugarte.
O protagonismo e a popularidade dos presidentes e dos directores desportivos é uma discussão frívola, desde logo porque as fotos nas capas dos jornais e as imagens nos programas na TV não chegam, ou não deviam chegar, para consagrar um dirigente como mais ou menos qualificado e expedito. No caso do Sporting, por exemplo, parece mais útil discutir se fez sentido reservar a fatia maior (20M€+4M€ em variáveis) do orçamento previsto para reforços para garantir Gyökeres, que assim se transforma no jogador mais caro de sempre do clube. Foi uma decisão controversa, mais pela dimensão do investimento do que pela valia do jogador, que é indubitável. Independentemente de como venha a resultar a sua adaptação ao futebol português, a aposta em Gyökeres pode ser vista como coerente à luz da seguinte linha de pensamento: uma parte dos analistas (eu incluído) e o próprio Rúben Amorim defenderam que o Sporting foi uma equipa com mais qualidade futebolística e claramente mais forte e diversificada no ataque posicional nas duas últimas épocas do que quando foi campeã nacional em 2020/21. Assim, parece congruente acreditar que esse aparente refinamento construtivo possa ser mais frutuoso acrescentando-lhe uma unidade que na competitiva Premiership se afirmou pela sua qualidade e eficácia (40 golos nas duas últimas épocas).
Nesta lógica de pensamento importa sempre ter presente que o lastimável quarto lugar do último campeonato também acabou por ser explicado pelo conjunto anormal de erros defensivos e até, segundo algumas teses que não subscrevo totalmente, pela cristalização do 3x4x2x1. Mas da contratação de Gyökeres resultarão ainda outro tipo de conveniências e utilidades, em especial a possibilidade de passar a existir um plano B que autorize a utilização em simultâneo do internacional sueco com Paulinho ou até com Chermiti, libertando Coates de um papel que revelava mais nirvana do que ciência.
GONÇALO ESTEVES
O espanhol José Ángel Carmona tem algum potencial, mas nunca fará esquecer Porro, sendo duvidoso que ganhe a corrida a Esgaio, pelo menos de imediato. Percebeu-se que Gonçalo Esteves se deixou extasiar a certa altura (mas tem estado bem no Euro sub 19) e que, com isso, atrasou a sua afirmação. Falta Amorim explicar por que razão o Sporting nunca tentou fazer regressar Tiago Santos, que acaba de se mudar do Estoril para o Lille, após ter falhado a ida para o Benfica (o Sporting não abdicou dos seus direitos sobre o jogador). Também não se percebem bem as hesitações sobre Fatawu.
DANIEL BRAGANÇA
Enquanto a vaga de Ugarte não for preenchida por um médio de cobertura mais à imagem do uruguaio, as opções mais credíveis ficam praticamente resumidas a Morita (que jogava mais recuado nos Açores) e a Daniel Bragança (vem de lesão grave, mas tem um talento imenso e diferenciado). Correram mal as tentativas de antecipar o distúrbio com as apostas em Tanlongo e, principalmente, em Alexandropoulos (custou 4,5M€). O treinador quer acreditar em Essugo, mas haverá sempre a possibilidade de voltar a baixar Pote.
Gasta metade do que vende
Quem se dá ao cuidado de contabilizar o que os clubes encaixam e despendem nos mercados de transferências já terá constatado que o Sporting manteve a mesma política de gestão desde que Frederico Varandas ascendeu à presidência, há seis épocas: investe sensivelmente metade do que recebe. Ou seja, o investimento tem crescido de forma proporcional e, na época passada, atingiu os 66,72M€, se contabilizarmos os 49,22M€ gastos em reforços no Verão com os 17,5M€ em Janeiro. Aproveitando as vendas de Ugarte e Porro e os quase 20M€ que o Lille já pagou por Rafael Leão, o Sporting já investiu neste Verão mais de 40M€, incluindo neste valor os 7M€ pagos ao Barça por Trincão e outras verbas elevadas para garantir percentagens maiores nos passes de Pote e do próprio Uguarte.
O Sporting não se livrou de cometer erros, bem expressos nos milhões pagos ao Liverpool por Rafael Camacho (cujo ordenado continua a ser uma grande dor de cabeça), ou, pior ainda, os 10M€ que custou 50% do passe de Rúben Vinagre. Mas, de uma forma geral, as apostas têm sido coerentes e estruturais, muitas vezes a pensar no futuro, como aconteceu com a aquisição do jovem guarda-redes Franco Israel, que acaba de se estrear na selecção uruguaia.
A contenção de custos nas mais diversas áreas e a política económica responsável permitiu que a SAD leonina saísse da situação de falência técnica – o último relatório registava que o passivo baixou para 312M€ e que os capitais próprios são agora de 31M€ positivos. A política de boas contas não tem impedido as obras de regeneração tanto em Alcochete como em Alvalade, bem como a construção de equipas competitivas. Mas há um dado que continua a fazer diferença, designadamente quando o Sporting se mostra mais ambicioso na abordagem ao mercado de jogadores: o relatório e contas do último semestre de 2022/23 da SAD leonina registava 38,2M na alínea dos gastos com o pessoal, contra os 51M€ do FC Porto e os 60M€ do Benfica.»
Toma e põe na gaveta que está quentinho!...
Leoninamente,
Até à próxi8ma
Sem comentários:
Enviar um comentário