quinta-feira, 28 de março de 2019

Agora com redobrada atenção!...


Nicolau Santos, presidente do Conselho de Administração da Lusa, jornalista e, para o que realmente interessa neste texto, sportinguista dos sete costados, escreve sobre o futuro do clube

«O meu filho tem 32 anos e viu o Sporting ser duas vezes campeão. A primeira quando tinha treze anos e a segunda quando tinha quinze. Depois, durante a crise, emigrou mas nunca deixou de sofrer pelo clube que é da família há seis gerações. Há dias, depois da eliminação do Sporting na Liga Europa, fez-me a pergunta que a nação verde e branca devia colocar todos os dias: quando é que o Sporting volta a ser campeão? Não sei, meu filho, sinceramente não sei. Mas sei qual é o caminho que temos de percorrer para lá chegar.

Primeiro ponto: depois do consulado de Bruno de Carvalho, em que o Sporting podia e merecia ter sido campeão no primeiro ano de Jorge Jesus como treinador (se houvesse VAR tínhamos ganho), a distância para os rivais foi aumentando e a factura do descalabro financeiro haveria de chegar. Chegou agora com a humilhação do Guimarães a pedir a insolvência da SAD por o clube de Alvalade ainda dever cerca de 4 milhões dos 6 que custou Raphinha.

Estou tranquilo quanto a isso. Francisco Salgado Zenha é um excelente gestor e nessa matéria o clube está em muito boas mãos. Vamos conseguir sair desta curva apertada da história do Sporting. Mas para isso vai ser necessário definir um rumo claro e não titubear perante as inevitáveis adversidades que ocorrerão no caminho.

Há algo, contudo, que a nação sportinguista não pode ignorar: estamos hoje muito atrás em termos de poderio económico e financeiro do Futebol Clube do Porto e do Sport Lisboa e Benfica. E esse fosso não pára de se agravar. Até agora, o FC Porto amealhou 78,45 milhões de euros na Champions, o Benfica 50,35 milhões na Champions e na Liga Europa – e o Sporting uns meros 6,39 milhões. Ou seja, para a próxima época os nossos rivais têm muito mais dinheiro do que nós para se reforçar e isso é algo que vem acontecendo já há vários anos.

O que daqui decorre, por muito que doa a todos os sportinguistas, é que nós neste momento não temos condições para nos bater com Porto e Benfica em provas de regularidade, que exigem um plantel razoavelmente equilibrado e relativamente extenso (24 a 26 jogadores), porque de outro modo não é possível estarmos dignamente em quatro frentes (Campeonato, Taça da Liga, Taça de Portugal e competições europeias).
Nós nem sequer temos 11 bons jogadores, quanto mais 26.

Segundo ponto: face a esta situação, toda a nação sportinguista tem de assumir que não seremos campeões nos próximos quatro, cinco anos. Não é popular dizê-lo mas é a realidade, Vamos ter de começar a reconstruir a casa com muita paciência. E se fizermos isso acabaremos por ser campeões. Para tal, do presidente ao roupeiro há que assumir algumas coisas. E a primeira é que o nosso grande objectivo nas próximas quatro, cinco épocas é, pelo menos, ficar em segundo. E a segunda é que precisamos ir o mais longe possível nas competições europeias para arrecadar dinheiro, prestígio e mostrar os nossos jogadores, podendo daí resultar futuras vendas que serão importantes para o clube sair do sufoco financeiro em que se encontra. Quanto à Taça de Portugal e à Taça da Liga são para ser jogadas pelos jogadores que não fazem parte do onze base. Não temos plantel para estar em todas as frentes. Temos de deixar cair algumas e concentrar-nos nas que são verdadeiramente decisivas para o futuro do clube.
Terceiro ponto: de uma vez por todas, tem de ser dito a qualquer treinador que venha para o Sporting que vai ter de contar essencialmente com os jogadores da formação, para além de cinco/seis jogadores muito bons e já com larga experiência, nacionais ou internacionais. Mas a base será a formação. O Miguel Luís não faz o mesmo que o Gudejl? O Jovane é pior que o Diaby? Não temos nenhum defesa central, defesa esquerdo ou defesa direito na formação? Ninguém para o meio-campo? Ninguém para o ataque? Temos, de certeza que temos. O que temos é de obrigar o actual treinador e os futuros a utilizarem esses jogadores, a fazerem-los crescer, a dar-lhes experiência. É ver o que aconteceu no Benfica com a chegada de Bruno Lage. João Félix já andava por lá mas Rui Vitória nunca apostou nele a 100%. Ferro então nunca pôs os pés em campo com Vitória. E quando não se aposta, os jogadores não crescem, não ganham confiança, não se afirmam e acabam por se perder.
No Sporting, Jovane estava a tornar-se um talismã, marcando golos decisivos sempre que entrava. Miguel Luís estava a afirmar-se como um excelente médio e até já marcava. O que aconteceu? Foram relegados para a bancada, nem sequer para o banco, e substituídos pelos Gudelj desse mundo. O Gudelj é mau? Não, não é. Mas faz a diferença? Não, não faz. E está a tirar a possibilidade de um jogador da casa, que sente a camisola, poder afirmar-se e tornar-se um símbolo do clube. O Diaby é mau? Não, não é. Faz a diferença? Não, não faz.
Verdadeiramente, nesta equipa só há um jogador que faz toda a diferença: Bruno Fernandes. Concedamos que depois Coates, Mathieu, Renan e Raphinha estão num patamar elevado. Acuña é bom mas muito conflituoso. Bas Dost também é bom mas não é por acaso que não joga na selecção holandesa: é um avançado à antiga, que não pressiona, não é o nosso primeiro defesa, fica muito estático, e precisa de excelentes alas que lhe coloquem a bola direitinha na cabeça.
Como não os temos, ele cada vez marca menos. Wendel é um meia que não marca golos. E por aí fora. Ora se é para termos jogadores que não fazem a diferença, então assumamos isso mesmo e joguemos com os que estão na Academia, mantendo Bruno Fernandes como referencial e exemplo (e Coates e Raphinha: os outros não mudam o curso da história).
Quarto ponto: mais que um treinador, o Sporting precisa de um psicólogo. Um clube como o Sporting tem de ter killer instinct. Quando é preciso ganhar, tem de se ganhar, mesmo que se jogue feio e mal. O que não pode acontecer é ser derrotado pelo Portimonense e pelo Tondela, empatar com o Setúbal e Marítimo e por aí fora. Isto não é de um clube grande. É de um clube do meio da tabela. Verdadeiramente, só é admissível que o Sporting perca pontos com o Porto e Benfica – e já é altamente discutível que isso aconteça com o Braga e Guimarães (e convém lembrar que fomos derrotados nos jogos em casa deles por 1-0). Para conseguir estes resultados, insisto, basta jogar com cinco ou seis estrangeiros, sendo o resto miúdos da formação. E não será muito diferente do que aconteceu, com a possibilidade de descobrirmos alguma pérola entre esses jovens.
Quinto e último ponto: se não temos dinheiro para ir buscar jogadores de craveira internacional, temos pelo menos dinheiro para contratar mais algum Slimani. Para isso, contrate-se como olheiro quem conhece o futebol africano e pode ser que tenhamos gratas surpresas. O futuro do futebol está em África. Não há razão para alguns dos grandes jogadores do futuro não virem jogar a curto prazo no Sporting.
Se seguirmos este trajecto, meu filho, não seremos campeões a curto prazo, mas seremos seguramente campeões mais ano menos ano. E até 2025 teremos ganho pelo menos um campeonato.»


O meu filho está prestes a fazer 41 anos. E tal como o filho de Nicolau Santos, apenas viu o Sporting ser duas vezes campeão. A primeira quando tinha vinte e dois anos e a segunda quando já tinha completado vinte e quatro. Com dois e quatro anos de idade, naturalmente não se lembra de viver essas alegrias. E nunca me terá feito tal pergunta, porque me quer parecer que há muito terá deixado de acreditar naquilo que vive em permanência no coração do pai, que o fez sócio ainda de tenra idade.

Casos apenas parecidos os vividos pelos filhos. Pensamentos rigorosamente iguais aqueles que os pais partilham acerca do futuro do Sporting...

Nicolau Santos escreveu esta crónica há precisamente três semanas e nem eu saberei bem o que me terá demovido de, na ocasião, a ter partilhado por aqui. Talvez valores mais altos se "alevantassem" na oportunidade. Mas hoje, que nada de importante se parece passar no Sporting, que nem em rodapé de tudo o que ao futebol diz respeito aparece nos OCS exibindo a gloriosa marca leonina, lembrei-me deste texto com que na ocasião me identifiquei completamente...

Não sei se Frederico Varandas terá tido acesso há três semanas a esta análise de Nicolau Santos. Mas mesmo que tal tenha acontecido, acho que deveria voltar a ler... 

Agora com redobrada atenção!...

Leoninamente,
Até à próxima

10 comentários:

  1. O Sporting pode fazer tudo bem mas com P. da Costa/Vítor Catão e Vieira/Boaventura não tem hipótese. E os sportinguistas insistem em dar receitas milagrosas para o sucesso! Mas que ingenuidade! Ou receio de dizer a verdade?! Então, mas o
    Sporting, nestes últimos anos não foi várias vezes melhor do que os adversários? Basta recuar à época de 2015-16. Quem é que pode competir com meios lícitos numa competição completamente viciada? O Sporting só está como está devido a essa viciação. Como não ganha vai estando em crise. Mas os sportinguistas, candidamente, vão alimentando o circo! Fazendo de palhaços... Digam, de uma vez por todas, que este futebol é uma aldrabice completa. Desintoxiquem-se desta droga! Eu fico espantado é como é que os sportinguistas ainda falam seriamente sobre esta fraude chamada futebol tuga! Como é que os sportinguistas, como NS, ainda escrevem artigos baseados em pressupostos benignos para falarem de uma competição maligna. Claro, que o diretor da LUSA não poderá dizer que o futebol tuga é uma burla. Que as nádegas vão sendo hegemónicas neste lodaçal porque são comandadas por quadrilhas mafiosas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tal e qual, Sr. Helder Mestre. Deixemo-nos de mistificações e encaremos a realidade de frente. Para combater-mos a corrupção de que somos vítimas, temos que saber usar a força social, económica, política, que a NAÇÃO SPORTINGUISTA representa, a começar pelas pelos responsáveis das instituições que objectivamente, pactuam com este estado de coisas.

      Eliminar
  2. Há muitas "culpas próprias" neste jejum de vitórias que temos de suportar...

    Mas não podemos esquecer que "as forças estranhas que se movem a favor" de alguns que bem sabemos quem são...
    Têm dado um forte contributo para este "deserto" de vitórias do nosso Clube...
    E enquanto assim continuar...iremos epnar e penar...!!

    SL

    ResponderEliminar
  3. Hélder, penso exactamente como tu, e acrescento que alimentar este tipo de conversas é credibilizar a máquina inquinada do futebol. As Toupeiras agradecemos, e os filhos do apito dourado idem. Para o ano é que é! Por amor de Deus, santa paciência...

    ResponderEliminar
  4. Frederico Varandas tem de explicar porquê abandonou a reestruturação financeira que, como adiantou Dias Ferreira, garantiria encaixe financeiro para regularizar divididas a curto e médio prazo, preparar o ajustamento do plantel e das despesas para esta fase sem receitas das competições europeias, e aproveitar a oportunidade única de recuperar quase 100% da SAD e consequente capacidade negocial de milhões de euros.
    Neste momento Bruno Fernandes é o último anel. A seguir vão mais alguns milhões da NOS antes de irem também os dedos.
    Porque não se avançou com a reestruturação????
    SL

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não acredito que se essa reestruturação "estivesse assim tão à mão e segura"...
      Não tivesse sido aproveitada...

      SL

      Eliminar
    2. Que o Dr. Dias Ferreira se pronuncie acerca da tão falada reestruturação. Das poucos vozes sportinguistas a quem dou o crédito de ser uma pessoa verdadeira, credível, corajosa e sem interesses pessoais, que sempre defendeu o clube, para além das circunstâncias e das conjunturas.
      Foi o único dirigente, nos meus tempos de juventude, que vi "enfrentar", na rua, os adeptos enfurecidos e zangados (eu próprio, também) com o mau desempenho da equipa de futebol. Daí, a minha admiração pelo homem, cimentada pelos seus desempenhos nas televisões, ao contrário de muitos outros que só se movem, pelos seus interesses pessoais, egoístas e de objetivos inconfessáveis, que infelizmente aturei, tenho que aturar, nas intermináveis "tertúlias" televisivas de mau gosto, manipulação de massas e de autêntica e atroz poluição mental, mas que nunca se misturam com o "povo", nem querem saber do "povo".
      QUE DIAS FERREIRA SE PRONUNCIE!

      Eliminar
  5. E eu digo mais, como é que estes “sportinguistas” continuam a apoiar esta corja corrupta que á mais de 40 anos andam a destruir o Sporting

    ResponderEliminar
  6. À medida que fui lendo o post cada vez mais me apetecia responder como o Hélder Mestre. Muito bem!
    São estes tipos de pensamentos como os do post que não nos fazem chegar a lado nenhum. Enfim...

    ResponderEliminar
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar