A PREGUIÇA QUE INSPIRA BRYAN RUIZ
«Correr e lutar são valores sólidos e imprescindíveis que só atingem a expressão máxima se a inteligência indicar quando, para onde e para quê. Não adianta querer estar em todo o lado ao mesmo tempo porque até os melhores, seguindo esse instinto como eternos candidatos a heróis, acabam por levar problemas onde deviam ser a solução. A reflexão conduz ao exagero de uma lista de derivados do futebol moderno, ao qual devemos acrescentar a sobrevalorizada velocidade, entendida como bem fundamental. "É bom mas é lento", diz-se nos dias que correm, com sentido pejorativo sobre craques da cabeça aos pés. Precisamente o contrário da sentença de Ricardo Bochini, génio argentino dos anos 70 e 80, ídolo de Maradona e símbolo do Independiente, ao pronunciar-se sobre Johan Cruyff, quando este deslumbrou o Mundo pelo Ajax e pela Holanda: "É rápido mas joga bem."
Como todos os grandes jogadores, Bryan Ruiz nunca tem pressa: o seu jogo jamais é afectado pelo vírus da urgência e da ansiedade: é como o bom boxeur que enfrenta combates de doze assaltos e não sente necessidade de resolvê-los prematuramente por KO. Uma das suas qualidades mais impressionantes é derrubar com as armas individuais de um talento maravilhoso mas também pelo conhecimento de quase todos os segredos do futebol como desporto colectivo; é resolver por habilidade mas também por entendimento global do jogo; é sair de apertos e fintar as armadilhas espalhadas pelos terrenos que pisa mas conseguir antecipar os passos seguintes. Poucos dispõem de tantas ferramentas personalizadas para se desembaraçarem das marcações e acrescentam a esse dom da natureza a depuração de um sentido estratégico primoroso. Ruiz vê bem ao perto e ao longe, razão pela qual é um perigo onde quer que esteja – entende o jogo como larga cadeia de acontecimentos previsíveis.
Prova de que a velocidade não é apenas de deslocamento, o costa-riquenho voa com a bola nos pés. A técnica é fundamental, claro, porque poupa tempo à execução – dominar mal a bola pode significar a perda de dez metros para fazer bem e de centésimos de segundo para criar uma situação de desequilíbrio ao adversário. César Luis Menotti diz que o treino serve para o jogador avaliar a velocidade máxima a que consegue ser preciso nos gestos e nos movimentos. Um dos maiores problemas do futebol actual, e que o tempo tem agravado, é haver jogadores com velocidade a mais para a precisão que têm. As plateias aplaudem o esforço e só tarde (ou nunca) entendem que esses sprinters raramente concluem o que iniciam, com a agravante de darem às acções o fim mais inconveniente: são muito rápidos, sim, mas a dar a bola ao adversário. Não é o caso de Ruiz, que pinta quadros solitários deslumbrantes ou gera perigo com invenções perfeitas que outros assinam: o golo.
Bryan Ruiz impõe-se pela escandalosa visão e pelo requinte de uma técnica superior; é daqueles para quem ver, analisar, decidir, acelerar, travar e simular são seis passos sintetizáveis num só. Configurado por estética preguiçosa, nunca precisou do cronómetro para ser uma estrela. A velocidade guardou-a no cérebro prodigioso, onde concebe criações supersónicas mesmo que não desfaça a imagem de ter um motor a gasóleo nas pernas. Ruiz mantém com a bola relação baseada nos princípios do encantador de serpentes: estala os dedos e ela adormece-lhe à frente, hipnotizada por aquele pé esquerdo magistral – o sono tranquilo e feliz faz crescer a convicção de que sairá dali mais redonda do que chegou, mesmo se o destino for quem não saiba tratá-la com tanto esmero. Dos reforços leoninos para 2015/16 foi ele quem mais tardou a ser reconhecido; sabemos hoje, porém, que nenhum como ele exerce tanta influência na máquina de sonhos que é o Sporting de Jorge Jesus.»
(Rui Dias, De pé para pé, in Record)
Finalmente, só agora mas finalmente, o reconhecimento daqueles que olham para o jogo como uma forma de arte, parece começar a ser derramado sobre a figura daquele que pessoalmente considero, de forma bem destacada, o melhor jogador a pisar os relvados portugueses, o costa-riquenho Bryan Ruiz!...
Jorge Jesus sempre o afirmou, mas a nossa comunicação social, como sempre, andava distraída a tentar colocar outras imagens no andor, tarefa que lhe enche e preenche o tempo todo, impede ou tolda o raciocínio e o sentido estético e destrói o tudo o resto que consta do seu "caderno deontológico"...
Às vezes interrogo-me sobre se os cornos da lua suportariam o seu peso, se Bryan Ruiz envergasse outra camisola!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Chamou-me a atenção no mundial do brasil, fiquei felissimo quando veio para o sporting. Demorou algum tempo, muito devido a não ter tido praticamente férias mas finalmente apareceu!
ResponderEliminarCaro João Nicolau, quem gosta de futebol e é sportinguista, só pode ficar felicíssimo por vê-lo com a gloriosa camisola do SPORTING!...
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