sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os berros do Sporting e a exuberante manifestação da testosterona da APAF



Sobra berrar

Sentado no meu sofá, senti, quando o golo de Slimani foi anulado, o bafo quente de Jorge Nuno e Luís Filipe, no meu pescoço desprotegido. Não estou a dizer que, mancomunados, os presidentes do Porto e do Benfica convenceram Manuel Mota a permitir que o relvado de Alvalade fosse um campo de batalha na primeira parte do jogo e a exigir que se transformasse num salão de chá no momento em que o Sporting marcou um golo. Nem sequer sou dos que acham que o Sporting é sempre a vítima – ainda recentemente assistimos ao oposto. Mas tenho de verificar que parece haver uma relação quase automática entre a deterioração da qualidade de jogo do Benfica e do Porto e o aumento dos erros de arbitragem no campeonato. E, por isso, reconheço aos dirigentes do Sporting o direito à indignação.

Perante os protestos mais firmes de Bruno de Carvalho, o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros exigiu uma punição exemplar. E eu exijo alguma vergonha na cara. Os árbitros, que até já boicotaram, há poucos anos, os jogos do Sporting, em defesa do seu bom-nome, têm sensibilidade selectiva e toleram bem melhor os ataques bastante regulares de Jorge Jesus. Se há coisa que o futebol nacional tem provado, é que há muita gente na arbitragem que nunca comete o erro de estar do lado errado do poder. E por isso reserva para as indignações sportinguistas os seus momentos de demonstração de testosterona.

Bem dizia Luís Filipe Vieira, há uns bons anos, que “são mais importantes os lugares na Liga do que os bons jogadores”. Como o Sporting não tem poder para ter lugares na Liga e não tem dinheiro para ter bons jogadores, resta-lhe bater-se pelas vitórias no campo e berrar pela justiça fora dele. A pressão que não pode exercer, na hora da verdade, nos corredores mal frequentados do futebol nacional, tem de exercer na praça pública. É por isso que, mesmo não gostando do espectáculo, tenho de reconhecer a Bruno de Carvalho o direito e o dever de dizer as coisas que diz. Quem não tem cão, caça com gato. Se até o Benfica, com os “lugares na Liga”, protesta, por que raio deveria o Sporting calar? Porque a associação de árbitros só se lembra que tem a dignidade de uma classe a defender quando o protesto vem de quem não manda no futebol nacional?


Sempre me perturbou a candura masoquista das prostitutas, perante o exacerbado sadismo dos xulos, alicerçado em puras e desviantes manifestações testosterónicas. Nunca percebi a descoroçoante dicotomia entre corpos encharcados de porrada e sublimados sentimentos de paixão. E a prova de que a minha incompreensão fará algum sentido, estará nos, felizmente mais comuns do que poderá ser suposto, gritos de Ipiranga das putas, vergadas a um continuado e infeliz modo de vida.


"Mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!".

Ironicamente, ou nem tanto assim, este grito de Ipiranga, não veio de uma puta. Nasceu, por razões bem distantes daquelas que hoje me fazem escrever estas despretensiosas linhas, na alma do assumido benfiquista que dá pelo nome de Manuel Alegre. Porque na grande família benfiquista, também há gente grande.

Bruno de Carvalho, goste-se ou não do estilo que vem adoptando, tem demonstrado a coragem de dizer não, à lama que inunda todo o futebol português. E a proverbial testosterona que prolifera no submundo do futebol luso, tudo faz para o arrasar, em prol da manutenção do "status quo" que nem a Justiça foi capaz de erradicar, quando a oportunidade descarada e incontornável de um "Apito Dourado", se nos meteu pelos olhos dentro. E o "polvo" continuou a espreguiçar-se no pântano. Ninguém sabe até quando!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. Aqui está uma crónica que o jornalista Nuno Santos devia imprimir e colocar debaixo da almofada...!
    Não é suficiente "dizer-se do Sporting", para ter credibilidade... esta surge das atitudes e não apenas do que se vai escrevendo para agradar a gregos e troianos...
    Ao contrário de Nuno Santos, o Daniel Oliveira não tem medo de pôr os nomes aos bois...
    De pessoas como "os André Santos" da nossa praça (ouvimos alguns às segundas nas TV´s...), é que César, o imperador romano disse momentos antes de ter tombado assassinato...: "Até tu, meu filho Brutus"...?

    Sporting Sempre...!!

    SL

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