domingo, 18 de março de 2012

Quem de três tira dois, quantos ficam ?!...

Fui ao longo de muitos anos, consumidor quase compulsivo de quase todos os jornais  e revistas desportivas do país. Grande parte deles ficaram pelo caminho com a falência dos respectivos projectos ou com o desaparecimento dos seus mentores e impulsionadores. Era o tempo dos semanários, bissemanários e trissemanários, em que a qualidade e competência  dos directores e jornalistas era reflectida nas páginas de cada um desses jornais e revistas e as suas  linhas editoriais obedeciam a critérios mínimos de isenção e rigor, se bem que cada um exibisse tendencialmente uma linha editorial mais próxima de cada um dos três maiores clubes portugueses.
Com o advento das edições diárias, que todos eles acabaram por adoptar, com a terrível guerra de audiências que essa medida acabou por determinar e com o desaparecimento de uma elite de jornalistas de referência que infelizmente não foi substituída  por valores próximos, tanto em termos de cultura, capacidade intelectual e competência técnica, quanto em termos de carácter, rigor e isenção, verificaram-se significativas alterações nas linhas editorias em cada um dos três que resistiram à corrosão dos tempos e dos custos de produção.
O jornal "A Bola", talvez pela nova realidade que trouxe o F. C. Porto para a ribalta do futebol português e pela proximidade que sempre evidenciou com o S. L. Benfica,  perdeu audiências, deixou de ser a referência que sempre fora e, na ânsia desenfreada de recuperar o tempo e os valores - de toda a ordem - perdidos, adoptou a estratégia de reforçar a proximidade com o emblema que julgou capaz de vir a recuperar a posição e o prestígio perdidos. É hoje, declarada e despudoradamente, um quase orgão oficial benfiquista, defendendo, promovendo e publicitando o seu "santo padroeiro" e atacando, indignificando, menorizando e desclassificando os outros dois clubes rivais. "Honra e Glória" ao seu director, à estratégia que delineou e vem prosseguido e desonra e incómodo para os seus colaboradores que, por necessidade, comodismo ou falta de visão, ética e dignidade, continuam a vegetar no pântano que o senhor Vitor Serpa criou e vai mantendo, com a esperança de que os 6 milhões lhe garantam o sustento e o êxito. Às malvas foi a independência, a isenção, a imparcialidade, o rigor... a dignidade e a ética. Ficou o prato de lentilhas ... vermelhas!...
O jornal "Record" outro orgão de referência, cujas razões natais e tendência editorial permanecerão para sempre ligadas ao grande jornalista e comunicador que foi Artur Agostinho, foi durante décadas o contraponto e o contraditório do jornal que atrás dissecámos e a compra obrigatória e preferencial da grande maioria dos 3 milhôes de portugueses sportinguistas. O declínio do Sporting C. P. terá porventura acelerado o seu "empobrecimento" e a sua "passagem" para as mãos de "apátridas" da alta finança, onde o lucro e a rentabilidade se sobrepôem a quaisquer outros valores, sejam eles éticos, morais ou intelectuais. A estratégia do seu director, Alexandre Pais, revelou a falta de originalidade que sempre patenteou: absoluto "copy and past" de Vitor Serpa, com abandono da tradição do jornal e o desrespeito para com a fidelidade de décadas dos seus leitores. Disfarçado de belenense, Alexandre Pais requintou a "táctica" do seu homólogo, adicionando na oferta, a invenção e a fraude jornalística, o sensacionalismo dos  excrementos tablóides e a perfídia da insinuação sobre os adversários a abater, sem nunca esquecer que o seu fruto preferido são aquelas melancias, cuja casca de tão verde quase sugere o azul. Presumo que a sua vida de director terá um prazo curto. A finança madá-lo-à apanhar urtigas e fechará as portas quando os números forem incontornáveis.  
Finalmente o jornal "O Jogo", nasceu de um "pai rico" que, de tão enojado com o espectro do jornalismo desportivo do Vale do Tejo, "mandou" edificar o edifício do novo orgão de comunicação utilizando a técnica ancestral  das palafitas, assente em estacaria que lhe permitiram ficar bem acima dos lodos movediços e pejados de répteis onde vão vegetando os seus congéneres. Pretendeu defender a sua região e todo o fenómeno desportivo que lhe é adjacente, particularmente a sua principal bandeira, mas impondo uma linha editorial parecida com os primórdios do jornalismo desportivo português: um director equilibrado e competente e um corpo redactorial também equilibrado e competente, éticamente insuspeito e que faz do rigor, isenção e imparcialidade os seus principais atributos. O caudal do rio que abastece este quase "platónico pai", não depende deste afluente. Outros pequenos - e grandes - rios secundários  lhe garantem a sustentabilidade presente e futura. A estratégia de arfirmação do jornal não terá resultado em pleno, porque derivando da previsível expansão e consolidadação de massa adepta da  hegemonia da bandeira regional, estas não têm acompanhado o êxito desportivo dessa mesma bandeira E os pecados que exibirá, corresponderão mais a rótulos colocados pela rejeição ou ódio ao porta bandeira, que à realidade que lhe vai no coração e na inteligência. Mas a sua grande arma, sempre foi, é e previsivelmente será, o silêncio e a acção, a par da manutenção das linhas mestras de excelência, tanto dos seus quadros editoriais quanto redactoriais. Por uma vez, talvez possamos assistir por muitos anos ao triunfo da qualidade sobre a mediocridade.
A título de exemplo, uma pequena reflexão entre o aplauso envergonhado dos desportivos do Vale do Tejo à saga do Sporting em Manchester e três esclarecedores artigos de "O Jogo":

1 - Criar uma família leva a maior cumplicidade ( aqui apresentado).

2 - Sá Pinto dá liberdade ( ver aqui ).

3 - Com Schaars e Ricky não há impossíveis ( aqui analisado )
Click here to find out more!

Os adeptos do Sporting Clube de Portugal, muito dificilmente encontrarão hoje, num jornal desportivo do Vale do Tejo, o equilíbrio, a isenção e a imparcialidade que nos oferece "O Jogo". Exceptuados os artigos de alguns - muito poucos -colunistas declaradamente afectos ao Sporting, que continuam naqueles orgãos a fazer a defesa da nossa gloriosa e centenária história, das virtudes do presente leonino e da esperança sportinguista no futuro, o resto é um repositório em duplicado - porque parecem copiar-se em cada dia -, de constantes e descorteses - muita vezes desrespeitosos -tratamentos sobre a realidade sportinguista. São as primeiras páginas pintadas quase invariavelmente a vermelho, é a desproporcionalidade da policromia das páginas interiores, é o teor parcial e sempre redutor até aos limites do vermelho, das crónicas dos jogos e da actualidade, são os editoriais de ambos os directores, de exaltação  repetida e fastidiosa das virtudes do alicerce das suas estratégias de vendas e o concomitante e sistemático "esquecimento" das virtudes de todos os outros clubes!...
Um dia os adeptos sportinguistas, farão aquela pergunta sacramental que os "antigos professores primários" - hoje não sei como chamar-lhes! - faziam na iniciação à subtraccção: quem de três tira dois, quantos ficam?!...

Leoninamente,
Até à próxima
  

10 comentários:

  1. Continuamos sem saber se haverá consequencias das ameaças de Rui Costa ao director da liga

    http://oantilampiao.blogspot.pt/2012/03/o-terror-dos-tuneis-volta-ameacar.html

    Consulte-se então o Regulamento Disciplinar da Liga e ler atentamente o ponto 2 do artigo 52.º, que castiga “os clubes que exerçam violências físicas ou morais sobre delegados da Liga, observadores de árbitros, dirigentes, jogadores, treinadores, secretários ou auxiliares técnicos, médicos, massagistas e delegados ao jogo do Clube adversário (…)”: subtracção de seis pontos na classificação geral e/ou multa de € 25.000 a € 100.000.
    Este ensurdecedor silêncio está explicado.

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  2. Caro "Anti Lampião",
    Lamento, mas de momento não possuo dados suficientes para emitir uma opinião.
    Contudo a sua conclusão de "este ensurdecedor silência", não me custa absolutamente nada corroborar. Como os insultos do presidente e treinador aos árbitros do jogo com o Porto, também foram para o caixote do "ensurdecedor silêncio" !...
    Em silêncio terão de estar sempre os dirigentes, técnicos e jogadores do Sporting, porque caso contrário...
    Mas a nós adeptos e particularmente aos autores e colaboradores dos blogs leoninos, ninguém castigará, nem que "grelem"!... Então é dar-lhes amigo. Eu farei o que puder e agora que estou alertado para mais este "silêncio", vou-me pôr na "coisa"!...

    SL

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  3. Alamo

    Excelente post. Concordo a 95% contigo. Os 5% restantes são devidos ao facto de "O Jogo", por vezes, tambem falhar na isenção relativa ao nosso clube. De resto normalmente compro "O Jogo" ao sabado e domingo. Infelizmente ainda vejo demasiados Sportinguistas a gastarem dinheiro com os pasquins vermelhos.

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  4. Caro 8,
    Concordarei sem pestanejar, que por vezes, lá aparecem algumas falhas de isenção em "O Jogo"! Particularmente nas posições do "Tribunal" na apreciação dos casos de jogos. Penso que isso se deverá mais aos "virus" que os analistas apanharam na APAF e que nenhum antibiótico conseguirá eliminar.
    De resto é um jornal equilibrado que se pode ler, sem vomitar...

    SL

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  5. Eu concordo com o post, e não me recordo de grandes problemas de isenção do "O Jogo", relativamente ao nosso Clube.

    Relativamente ao Sport Lisboa, sem dúvida. E há exemplos bem recentes disso. Por uma ou outra razão (alterar-se-á o paradigma no futuro próximo...?), vejo - ainda... - isenção relativamente ao SCP.

    A única coisa que não aprecio particularmente, no jornal, é mesmo a análise que costumam fazer do rendimento individual dos jogadores, em dias pós-jogo. Mas, neste aspecto, mesmo assim, nenhum outro é melhor...

    Em tudo o resto (destaco a qualidade dos artigos, bem como o design do formato online), é incomparavelmente melhor que qualquer outro do mesmo registo - como os já referidos "A Bola" e o "Record".

    SL

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  6. Caro Gonçalo Correia,
    Obrigado pelo comentário, que me traz a satisfação de saber que a minha mensagem chegou a algures, no magnífico universo leonino. Ás vezes fica-me uma pontinha de mágoa por ver que um qualquer artigo, que quase sempre obriga a gastar tempo e trabalho de pesquisa e preparação, não merece um único comentário de quem me lê e que a tecnologia me diz que em média andará pelo meio milhar diário. Só o grande amor à causa sportinguista me impele a continuar, sem desfalecimentos ou mágoas recalcadas. Por isso é com prazer e satisfação que respondo a todos os comentários. A interacção é a mola real e o estímulo para que continue esta aventura de quase um ano.
    Há mil e um assuntos na minha cabeça, sobre a causa sportinguista, para apresentar neste areópago e dissecar criticamente segundo a visão leonina. Dentro das minhas disponiblidades, vou fazendo o que posso, mas fica tanto por fazer e dizer...
    Confrontado com a "pobreza" de quase todos os intérpretes do jornalismo desportivo português, a ideia subjacente a este artigo, já vinha de trás. Calhou agora, por via dos três apontamentos de "O Jogo" - magníficos! - e aproveitei para a trazer à consideração daqueles que me lêm, o panorama geral que há muito me decepciona e preocupa.
    Fico contente por a sua opinião ser coincidente com a minha. Assim já não me sentirei, qual D. Quixote, lutando contra moinhos de vento. Fico-lhe grato por isso e convido-o a aparecer mais vezes e a deixar a sua opinião, mesmo que ela signifique discordância, porque os sportinguista diferenciam-se de todos os adeptos, por pensarem pela sua própria cabeça. E o grande amor que cada um dedica ao Sporting, nunca será minimamente beliscado, com a diversidade de opiniões. Somos assim: unidos em tudo que verdadeiramente for importante, mas cultivando a riqueza da diversidade de opinião nas coisas não tão importantes.

    Um abraço grato e leonino

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  7. Álamo,

    Compreendo, é, além de aprazível, enriquecedor discutir um ponto de partida interessante como este.

    Vou estar, garanto, mais atento aqui aos comentários do "Leoninamente" (porque os artigos há muito que leio).

    Também acho basilar a discussão de opiniões e ideias, em particular se houver uma procura constante em aprender no que o outro diz (infelizmente, nem sempre acontece).

    Em relação ao panorama geral do jornalismo desportivo português, eu concordo por completo: é pobre. Há mais preocupação com a forma e com lugares-comuns desinteressantes que com um trabalho criativo e de qualidade.

    Agora, não é irreversível (e gostava de lutar profissionalmente por isso...). Haja coragem editorial e vontade do público em receber algo diferente - e melhor.

    Outro vindo daqui.

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  8. Caro Gonçalo Correia,
    Mais uma vez obrigado pela sua "revisita". Há amigos - de todas as cores, felizmente! - que perguntam sobre o que me faz correr nesta aventura. São casos como o seu, meu caro! São as opiniões e as presenças como a sua, que me dão a "pedalada" e o gosto.
    Sobre o panorama geral do jornalismo desportivo português, os nossos pontos de vista são iguais: é pobre, muito pobre! E não só no aspecto editorial ou redactorial. É pobre na ética exibida pelos protagonistas, tanto num como noutro campo. E na isenção. E na equidade. É pobre até no caráter que se adivinha nas pessoas que o fazem...
    Mas há uma ligeira cortina que "adivinho" no seu último parágrafo. Não me diga que tenho o privilégio de trocar impressões com um futuro jornalista?!... Costuma-se dizer que pelo "andar da carruagem se adivinha quem vai lá dentro" !... Pois se a imagem que presumi recolher através dessa cortina que deixou entreaberta, estiver próxima da realidade, acredito que irá mesmo lutar pela reversibilidade do jornalismo português e mais... estou crente que algo de muito positivo em prol desse objectivo irá conseguir. No jornalismo, como no futebol e na vida, os milagres não acontecem. São apenas reflexo da inteligência, da capacidade, da competência e... do amor que se tem a uma profissão ou a uma causa. Se eu estiver certo em todas estas suposições, bem haja e que a sorte e o êxito o acompanhem.

    Um abraço amigo e leonino

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  9. Sim, estou neste momento a estudar Comunicação - Social e Cultural. Agradeço e muito as previsões e os votos... oxalá se concretizem!

    Quanto á ética e ao carácter dos jornalistas, á isenção e á equidade, posso falar melhor, porque estou a estudar isso no exacto momento em que escrevo...

    Aqui, a culpa não é tanto da irresponsabilidade dos jornalistas - e não sou eu que digo, são pensadores que se debruçaram sobre as questões éticas da informação.

    O sistema mediático leva a essa falta de credibilidade. A pressão do tempo, o cuidado editorial, a questão das informações serem ou não "vendáveis"...

    Tudo isto condiciona e muito significativamente a prestação do jornalista.

    Como se pode pedir algum distanciamento, imparcialidade e verdade (nunca totalmente atingidos, porque escrevmos como pensamos e a análise que fazemos dos acontecimentos, para os descrevermos, depende das nossas experiências, do nosso contexto cultural, etc etc... o que não impede que nos aproximemos destes conceitos, e que acima de tudo sejamos sério), com todas estas limitações e condicionamentos?

    É, pelo menos, muito complicado. Os media, como estão, não dão tempo, espaço ou liberdade aos jornalistas para exercerem como deveriam a sua profissão. Não lhes impossibilitam, mas dificultam e muito... principalmente aos que não tendem para a seriedade e para as qualidades cognitivas - e que não se preocupam com este condicionamento...

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    Respostas
    1. Na "mouche" !...
      Temos então aqui um jornalista em potência. Renovo e reforço os votos que lhe expressei anteriormente. Mas ... a caminhada vai ser longa e difícil!...
      Uma íngreme, dificil e muito complicada escada se coloca na sua frente e na frente de todos os que, como o meu amigo, decidiram escolher esse caminho para as suas vidas.
      Que a instituição onde "bebe" o seu futuro lhe dê as armas de que, necessariamente, irá precisar. E se lhes juntar, a dignidade e a honra, o caminho poderá não ser tão fácil, mas um dia dirá para si próprio que valeu a pena!...
      Por mim, agora que posso imaginá-lo amanhã, a assinar um qualquer artigo sobre assuntos de algum modo ligados ao Sporting, fica-me a certeza de que não virão de si quaisquer acções indignas contra tão velha como digna e honrada instituição.

      Um grande abraço, saúde e muita sorte no futuro

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