terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Insondáveis virtudes e reflexos?!...


Keizer traz ômega 3 que chegue?


Keizer permanece em lua de mel açucarada com os adeptos e com os jogadores do Sporting, o que é mais do que ajustado a quem os conseguiu seduzir, enquanto o diabo esfrega um olho, com uma das ideias mais prósperas e amigáveis que o futebol português testemunhou nos últimos tempos. Desdenhar a bondade desse contributo, como José Gomes e José Mota aparentaram fazer, em certa medida, só pode esconder algum despeito enciumado e até ser confundido com hostilidade chauvinista, pouco entendível num país que exporta técnicos para todos os cantos do mundo. E a reprimenda é assumida por quem, há um mês, escreveu que a contratação deste holandês quase anónimo tinha sabido a óleo de fígado de bacalhau aos adeptos leoninos… A verdade é que a primeira gustação não foi estimulante, mas Keizer parece ter trazido o ômega 3 e os ácidos graxos que ajudam a regular as inflamações…

Claro que o Sporting está longe de ser uma equipa perfeita, até por lhe faltar matéria-prima de qualidade nalgumas posições. E a forma supersónica como o holandês infundiu a sua ideia de jogo, favorecendo, é certo, ainda mais o panegírico (até por contradizer as prédicas dos que nunca estão satisfeitos com os prazos limite para mostrarem obra feita), também não ajuda à demanda da perfeição. Aliás, o próprio Keizer admitiu que ainda não tem "uma equipa de sonho". E disse-o logo após o expressivo triunfo em Vila do Conde, frente a um Rio Ave que não perdia em casa há 20 jogos e que é uma das melhores e mais bem treinadas equipas nacionais.

Esse jogo foi o primeiro real teste do algodão. E, tal como em Viseu, frente ao débil Lusitanos, ou em Bacu, perante o Qarabag, o Sporting confirmou ser uma equipa transparente. Repetiu a construção curta, meticulosa e com critério. Com prevalência no corredor central, mostrou boa ligação entre os sectores, com as diagonais dos alas e a projecção dos laterais (muitas vezes em simultâneo, um risco). O seu futebol sedutor tenta progredir com passes curtos, a um, dois toques, e sempre com muitas unidades envolvidas no processo ofensivo e presença na área adversária. O regresso de Mathieu melhorou a primeira fase de construção, que também beneficia do recuo, para pivot, do sérvio Gudely, que tem critério, passe e a escola toda do futebol holandês. E com Bas Dost, o Sporting está sempre mais próximo dos golos (até que ponto a sua ausência apressou a saída de Peseiro?). Bruno Fernandes voltou ao seu melhor nível e Wendel, que no Brasil se revelou como "volante", é muito útil também num papel mais ofensivo. A sua lesão e os dois meses de paragem são um revés num plantel sem Battaglia e onde só sobra quase Bruno César. Enquanto não reabre o mercado não será de excluir a adaptação de Nani, sobretudo nos jogos menos exigentes.

Mas o mais impressionante talvez seja mesmo a intensidade que o Sporting coloca na reacção à perda de bola. Em Vila do Conde foi também proveitoso o posicionamento de Nani próximo de Bas Dost, em organização defensiva, com Wendel por trás. Quando não resultava, Nani encostava à ala e era Wendel que se aproximava mais do holandês, deixando atrás duas linhas de quatro consistentes na "basculação". Gudelj já tinha admitido que Keizer exige, nos treinos, que se reaja forte e com sucesso à perda de bola no espaço de cinco segundos (caso contrário, a equipa adversária contabiliza um golo). E o Record foi oportuno a explicar que isso resulta do que Keizer retirou de uma viagem à Alemanha para observar os métodos do Bayer Leverkusen, então treinado por Roger Schmidt, um fã do "gegenpressing" (armadilhas de pressão, em tradução livre). É possível que Keizer tenha procurado novos métodos por forma a retorquir quem diz que as suas equipas marcam muitos golos, mas também os sofrem em doses elevadas. No Ajax B (dotado de um número raro de craques), conseguiu marcar 93 golos em 38 jogos. Mas sofreu 54. E as coisas não foram muito diferentes no Ajax A (em 24 jogos, marcou 66 e encaixou 26). 

A verdade é que a atmosfera resplandecente resultante dos três primeiros duelos não teve continuidade no regresso a Alvalade, frente a um Aves que mostrou como se pode armadilhar este Sporting. José Mota pressionou mais alto do que seria suposto, marcou praticamente HxH os três médios leoninos, e o Sporting passou 45 minutos à toa e sem conseguir construir. Como também faltou intensidade à pressão alta, os avenses galgavam essa primeira fase e instalavam o caos junto de um Sporting que, nestas circunstâncias, ficou desequilibrado e sofreu em demasia nas alas e também nos terrenos de um Coates pouco cómodo como tantos metros nas costas. Foram sinais preocupantes, até porque é um cenário que poderá repetir-se frente a adversários pressionantes como o FC Porto ou o Sp. Braga. E falta descobrir como reagirá o Sporting perante equipas com linhas muito baixas e compactas. Que abundam por aí...

Cinco estrelas - "Cancelo show"

À esquerda ou à direita, tanto faz: na Juventus há, cada vez mais, um "Cancelo show" – uma das inúmeras referências elogiosas da imprensa italiana à mestria do lateral português, que somou mais uma assistência para golo.

Quatro estrelas - A energia do Liverpool e Salah

O enérgico Liverpool de Klopp goleou em Bournemouth com um "hat-trick" de Salah, mostrando ser possível ultrapassar (pelo menos na classificação) o futebol feito de filigranas de um City que desperdiçou em demasia frente ao Chelsea.

Três estrelas - Messi antológico

Dois golos de livre (um verdadeiramente antológico), participação nos outros dois tentos do Barça sobre o Espanyol e um recital de bem jogar: eis a resposta de Messi aos que não respeitam o talento.

Duas estrelas - VAR com poucas dioptrias

O CA veio admitir que o VAR leva 9 (só?) avaliações erradas nesta época. Falta Fontela Gomes explicar como vai contrariar a tendência de os piores juízes acabarem no quadro do VAR. E o vídeo-arbitro tem mesmo mais "dioptrias" para os "grandes"?

Uma estrela - Casamentos à moda da Luz

A Luz parece um circo e a explicação de Soares Oliveira para o facto de o casamento da sua filha ter sido facturado ao Benfica faz tanto sentido com eu achar que posso participar num karaoke com o Bono.»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)

Começando por questionar a (in)suficiência do ómega 3 trazido para Alvalade por Marcel Keizer, passando pelo estúpido e censurável mas mais do que visto, revisto e aumentado despeito de José Mota e José Gomes, que apenas surpreenderá os menos atentos e que ainda alinham com uma certa e abominável plêiade de treinadores portugueses incultos e desprovidos de carácter que infelizmente vamos tendo por cá, para rematar em beleza e em grande com os "casamentos à moda da Luz", direi sobre esta singular crónica de Bruno Prata que, ou muito me engano, ou estaremos perante um dos melhores trabalhos que terá produzido para o jornal Record.

Será que afinal, o "ómega 3 de Keizer" terá trazido...

Insondáveis virtudes e reflexos?!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Caro Álamo:
    Só foi pena Bruno Prata, como a generalidade dos comentadores, passar por cima de um facto importante: O Desp Aves tem por lá uns rapazes "contratualmente ligados ao Benfica" que passaram o jogo a dar pau forte e feio, pelo menos no Bruno Fernandes.
    Quanto ao Wendel, não sei se foi algum dos dois que o lesionou. Vou ver com atenção, se puder, se nos próximos jogos do Aves, estes dois "contratualmente ligados" mostram a mesma agressividade.

    Grande Abraço,

    José Lopes

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    1. Caríssimo Amigo José Lopes, partilho inteiramente o seu pensamento no que aos "contratualmente ligados ao Benfica" diz respeito! Foi óbvio, evidente e factual! Faz parte do "acordo" há muito celebrado entre as duas colectividades AQUILINAS, até no triste caso dos autocarros, que nem necessidade tiveram de alterar a cor! Todos o sabem, incluindo muito provavelmente o Bruno Prata. Mas como o Amigo sabe, a nossa CS tem um "pavor imenso" de beliscar, nem ao de leve que seja, o "proletariado dos processos, casamentos, baptizados e outras cerimónias fúnebres, que se acolhem nas procissões e depois das 'santas eucaristias', sob o pálio vermelho"!...

      E permita recomendar-lhe, que se puder e tiver tempo para ver com atenção os próximos jogos do Aves, o faça sentado. Apenas e porque o Zé da Mota mai-lo "digníssimo" presidente da colectividade onde volta (do verbo voltar), volta e meia (amiúde), não costumam dar água aos pintos no Inverno. A menos que seja mesmo ao "pinto verdadeiro", que esse nunca chegará a galo na "vila das aves"!...

      Um grande abraço e fraternas Saudações Leoninas.

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