JOÃO COUTO: «A NOSSA FORMAÇÃO DÁ LIÇÕES AO MUNDO» (LINK)
Já orientou Sporting e Benfica, mas é em Alcochete, onde mora o clube do coração, que se diz em casa. O técnico ‘papa-títulos’ da formação, de 56 anos, voltou aos leões em 2015 e, dois anos depois, levou os juvenis ao bicampeonato.
ENTREVISTA DE RICARDO GRANADA/RECORD
«RECORD – Regressou ao Sporting em Janeiro de 2015, depois
de nove anos fora. O que o motivou a voltar?
JOÃO COUTO – O convite de Bruno de
Carvalho, Aurélio Pereira e Virgílio. Foram os três que me contrataram. Sou
sportinguista de gema, embora tivesse estado dois anos e meio no Benfica, mas
sou profissional. O presidente acredita plenamente na formação e vê-a como uma
mais-valia, por isso considerou que eu era importante para este projecto.
R – A que se deveu a sua saída, em 2006, ano em que também assinou pelo
Benfica?
JC – Não saí por minha vontade. Fi-lo porque não cheguei a acordo com a
direcção da altura. Tenho um trajecto de professor e treinador, e naquela
altura achava-se por bem que um treinador, numa Academia da dimensão da do
Sporting, tinha de estar a tempo inteiro. Concordei e saí do ensino. Só que
depois não acordámos os termos negociais. Fui ver outro mundo. Quando me
puseram a hipótese de voltar ao meu clube, fi-lo com muita alegria.
R – Tendo assistido em primeira mão à inauguração da Academia [n.d.r.:
21 de junho de 2002], quão importante tem sido esta ‘caixa-forte’? Há espaço a
melhorias?
JC – No futebol é errado dizer que ‘já não há nada para inventar’.
Existe sempre um espaço evolutivo, uma margem de progressão. Se não, as coisas…
estão mortas. A Academia tem feito o seu papel, já criou vários talentos. Vão
aparecer mais talentos. O nosso trabalho é apresentá-los e potenciá-los.
R – Que transformações foram feitas para reorganizar a formação do
Sporting?
JC – Estive cá de 2000 a 2006, regressei em Janeiro de 2015. Não sei
muito bem o que se passou nesses tais nove anos… Uma coisa é estar dentro da
casa, outra é estar fora. Quando voltei, em 2014/15, os juvenis nem tinham sido
apurados para a fase final, fizemos os últimos seis meses da época no
campeonato da manutenção. Foi uma altura em que aproveitámos para reabilitar a
equipa. Nos dois anos seguintes, correu muito e agora somos bicampeões
nacionais. O Sporting reorganizou-se. Melhorou a qualidade de intervenção, as
instalações… Temos hoje uma estratégia bem coordenada pelo Luís Martins. Todos
os treinadores sentem-se parte de um projecto comum.
R – O sucesso é mérito do valor dos treinadores portugueses?
JC – Somos bons no futebol, não é por acaso que somos campeões europeus
e temos treinadores que dão cartas no Mundo inteiro.
R – Dentro dessa lógica, mantém uma colaboração regular com Luís Martins
(treinador da equipa B) ou Jorge Jesus (treinador da equipa principal)?
JC – O míster Jorge Jesus não pode estar preocupado com o que se faz
aqui, mas é evidente que tem essa ligação, precisamente através do nosso
director técnico, o Luís Martins. Temos uma articulação muito grande entre os
treinadores, porque sentimos que a formação é global. Vencer o campeonato de
juvenis ou juniores é mérito de todo o processo. Temos uma vivência diária em
que os treinadores discutem os problemas. Há muita proximidade. É uma casa
Sporting, onde todos trabalhamos para o mesmo.
R – É defensor de uma táctica uniformizada?
JC – Não, nem sequer faz sentido ter um sistema táctico e uma táctica de
equipa igual à dos seniores, porque é outra realidade. O modelo de jogador é
prioritário em relação ao modelo de jogo. Por isso é que eles devem chegar aos
seniores e ter a capacidade de serem inteligentes e adaptarem-se a vários tipos
de sistemas. Sou apologista, sim, de uma ideia global de formação.
R – Guiou este ano os juvenis ao ’bi’, sendo que também os juniores se
sagraram campeões, cinco anos depois. É a prova que a crise da formação está
ultrapassada ou esse conceito nunca sequer existiu?
JC – Essa expressão existiu porque foi levantada… Hoje, não há crise
nenhuma, muito pelo contrário. A nossa formação dá lições ao Mundo inteiro em
relação a como se organizam e rentabilizam os talentos da casa. O Sporting é o
maior expoente da formação em Portugal.
R – Falta maior competitividade ao campeonato nacional?
JC – Sem dúvida. Esta última fase final foi muito competitiva, e é isso
que faz falta. Não queremos dar 10 e 12 a 0 aos adversários da primeira e
segunda fase, não faz sentido. Queremos jogos equilibrados, para trabalhar
processos ofensivos e defensivos. Como é que se cresce? Utilizando os erros
como factores de crescimento. Queremos mais competição.
R – Em 2017/18 é para o ‘tri’?
JC – Porque é que não podemos sonhar com isso? Vamos dizer que não o
queremos? Claro que queremos. O nosso grande objectivo passa por acrescentar
valor aos jogadores; o segundo, ter equipas competitivas, porque sem elas
também não formamos bem; o terceiro, a formação integral do homem. Queremos o
‘tri’, tal como no ano passado quisemos o bicampeonato... e conseguimo-lo.
"Guarda de honra foi atitude bonita"
R – A guarda de honra que os jogadores do Benfica fizeram aos do
Sporting, na última jornada, foi um gesto que o surpreendeu, apesar da
rivalidade entre os clubes?
JC – Sou treinador de formação há muitos anos e conheço vários
treinadores, um deles é o Renato Paiva (técnico do Benfica). Para além da valia
como treinador, tem uma boa relação com as pessoas. Não me surpreendeu por ele,
pelo Benfica ou até pelo Porto, quando no final de um jogo no Olival houve uma
‘escaramuça’ entre os jogadores e os treinadores e dirigentes tiveram um papel
fundamental na resolução. O facto de os jogadores do Benfica terem tomado essa
iniciativa foi uma atitude bonita.
R – O clima tenso entre Sporting e Benfica nos seniores não transparece
para os escalões de formação?
JC – Um jogo não vale só pelo próprio jogo, mas pelo contexto, sócios, a
história... Dérbi é dérbi, todos queremos ganhar, sobretudo num
Sporting-Benfica. Os treinadores tentam, sim, cortar aquele ‘stress’. Se não
forem os adultos a ter a cabeça direita, os miúdos também não a têm.
Evidentemente que antes de um dérbi já estão a falar nas redes sociais, com
amigos, as namoradas, os pais… Há aqui um contexto muito forte. Quando salta a
bola todos queremos ganhar. Que as reacções são mais à flor da pele... faz
parte.
R – Nesse último jogo da época com o Benfica, já com o título na mão, o
resultado foi negativo (0-5). Houve demasiada descontração?
JC – Fomos a melhor equipa ao longo da temporada, no último encontro o
nosso campeonato estava feito, já não estávamos nessa ‘onda’, apesar do natural
desejo de ganhar ao Benfica. A equipa foi muito massacrada na fase final do
campeonato, tivemos muitas contrariedades. Ficámos temporariamente sem o Tiago
Djaló e o Diogo Brás por erros de arbitragem e as pessoas nem sabem, mas
tivemos miúdos fundamentais a recuperar de pubalgias. Conseguimos ligá-los ‘à
maquina’, sob essa visão de podermos ser bicampeões nacionais. Depois do jogo
do título, em Coimbra, os jogadores estavam ‘rotos’. Fizemos a festa
antecipadamente, não o devíamos ter feito, mas foi uma celebração merecida.
"Temos uma série de miúdos com muito
valor"
R – Diogo Brás ou Bernardo Sousa, alguns dos destaques da equipa, são os
próximos nomes a ‘explodir’?
JC – Com 17 anos ainda têm um longo percurso. Temos uma série de miúdos
com muito valor, seja o Brás, ‘Benny’, Tiago Djaló, Bavikson, Goulart... Falo
neles não para os enunciar, mas sim para dizer que se a formação for bem feita
podem ser talentos.
R – Alguns com características comparadas às de jogadores dos A...
JC - É injusto estar a querer ‘colar’ um jogador a outro. Como é óbvio,
têm as suas referências, tal como o Cristiano Ronaldo as tinha quando o
treinei, mas eles têm de ser iguais somente a si próprios.
"Fui tutor do presidente"
R – É verdade que conheceu Bruno de Carvalho quando tiraram o curso de
treinador?
JC – Sim, fez estágio comigo no Sporting. Ele estava a tirar o curso de
1º e 2º nível, eu já tinha o 4º. Fui uma espécie de tutor do presidente.
R – Está bem enquanto líder ou apoia a sua mudança para o banco de
suplentes?
JC – Presidente é a área dele! Tem sido um bom líder. Por isso, faço
votos para que não volte para o campo [risos]. Tenho boa relação com ele.»
Correndo risco de que me sejam dirigidas eventuais críticas pelo trabalho fácil que significará o "copy & past" desta excelente entrevista que João Couto concedeu ao jornalista Ricardo Granada, abalancei-me à empresa, na medida em que estou perfeitamente consciente de que, por motivos a que sou totalmente alheio e que há mais de seis anos aqui tenho objectivamente tratado e dissecado, o trabalho seria apenas lido, muito provavelmente, por uma pequena franja de adeptos sportinguistas, bem menor do que a importância das palavras aqui vertidas mereceria.
Esta será, infelizmente, a única alternativa viável ao afastamento de milhares e milhares de adeptos sportinguistas do jornal Record, face à adopção, legítima mas irrealista, dos seus responsáveis, por uma linha editorial que se afastou completamente das suas tradições como jornal isento e credível que já chegou a ser uma referência em todo o fantástico universo leonino.
Vale a pena conhecer o pensamento de João Couto!...
Leoninamente,
Até à próxima
Obrigado, por me permitir ler esta entrevista, eu sou um dos que dejxou de comprar esse jornal, devido a falta de etica de alguns dos seus jornalistas, principalmente o seu sub diretor nuno farinha.
ResponderEliminar