OS CARROSSÉIS DAS TRANSFERÊNCIAS
«O tema das transferências no mundo do futebol e os dinheiros que movimentam à escala global não são de abordagem falsa. A maior parte dos observadores foge dela como o diabo da cruz, porque o negócio do futebol — tal como está desenhado — envolve muitos interesses e esses são geridos, directa ou indirectamente, ou através de cumplicidades várias ou de silêncios.
Temos, neste domínio, um português de sucesso que faz acontecer muita coisa (Jorge Mendes), ganhando muito dinheiro (muito dinheiro, aqui, significa movimentar largas centenas de milhões de dólares) e dando muito dinheiro a ganhar.
Surgem, em Portugal, e à escala internacional, notícias de evasão fiscal, de uma acção concertada entre as Autoridades Tributárias de vários países europeus para atenuar o prejuízo decorrente de uma massiva fuga ao fisco que tem apanhado várias figuras de relevo da cena desportiva e futebolística, e a verdade é que — havendo ou não relação com esse facto — há muito que se fala da desproporção entre os ganhos como as transferências de muitas individualidades e entidades (entre as quais as que adquiriram a forma de Fundos) e aquilo que são os benefícios dos clubes ou SAD.
Fala-se de passivos e de fair play financeiro, fala-se de falências técnicas e, no entanto, vamos vendo algumas figuras relacionadas com o futebol a prosperarem enquanto as contas dos clubes/SAD apresentam muitas vezes números negativos. Pode ser a natureza da gestão, pode ser a estrutura de custos muito superior ao valor líquido das receitas, mas também pode ser — como muitos apontam, estando do lado de dentro do futebol, como é o caso de Bruno de Carvalho, presidente do Sporting — por ser "muito fácil roubar dinheiro de um clube".
Um assunto destes não devia suscitar tantos silêncios. É um assunto que não diz respeito apenas ao futebol; é um assunto que diz respeito aos governos e aos contribuintes. Qualquer contribuinte que paga impostos (e sabemos que o sistema é injusto porque são poucos a pagar por muitos) deveria ter uma posição inegociável sobre esta matéria. Em Portugal — como em quase tudo — não se liga. Triunfa quase sempre a figura do porreirismo nacional.
Não se pode ficar indiferente quando é o presidente de um clube de futebol a dizer (neste caso, Bruno de Carvalho) que "há fraude e corrupção", quando se refere – como se referiu na entrevista concedida à Bloomberg durante o congresso do Sporting, subordinado ao tema ‘The Future of Football’ – ao mercado de transferências. Não será normal e desejável que, por força de declarações públicas, as autoridades judiciárias chamem Bruno de Carvalho para o presidente do Sporting concretizar algumas das suas declarações? É possível que testemunhos do tipo um agente pediu-me ‘x’ para renovar com um jogador e dava-me, depois, o montante correspondente a "x/2" não merecem ser investigados? Mecanismos deste tipo podem ser observados como mecanismos normais, no mundo do futebol?!
Mais: – as diferenças de verbas anunciadas por clubes que negoceiam e fecham o processo de compra e venda de determinado jogador não merecem nenhum tipo de atenção?
– quando se entra no processo de aquisição de um jogador é normal que, em caso de vários interessados, as verbas de referência para cada qual sejam assim tão distintas, por exemplo de 1 para 4? O que significam estas diferenças? Apenas a exploração das regras do mercado?
– jogadores a rodar por um círculo de clubes restrito é apenas uma coincidência? Quem ganha com esse carrossel? Quem está implicado? Apenas agente e jogador? Há treinadores metidos neste carrossel?
– os prémios de assinatura, por exemplo, são para quem?
Uma coisa é certa: o processo actual de informação (CMVM, R&C dos Clubes/SAD) não responde a todas as questões. É por isso que ando há 10 anos a falar da necessidade de existência de uma Casa das Transferências, na qual ficassem registados todos os movimentos.
Parece-me claro que há todo um terreno para desbravar neste universo (muito nebuloso) das transferências. Se é possível não pagar tanto por comissões (casos de João Mário, Slimani e, agora, no empréstimo de Coentrão), talvez os clubes precisem de rever os seus mecanismos. E aqui não é uma questão de mercado. É uma questão de racionalidade.
NOTA - Pausa na escrita. Regressarei ao contacto com os leitores na edição do próximo dia 5. Boas férias!
Jardim das estrelas (*****): Ponto final na bandalheira
Tem sido uma bandalheira, e muito através de convites, bilhetes para os titulares de cargos dos órgãos sociais e respectivas famílias para poderem assistir aos jogos de futebol da Liga. São as conversas que sempre se têm, a proximidade e uma certa forma de estar bem portuguesa em que as ‘cortesias’ se transformam rapidamente em ‘exigências’. Os clubes utilizam esse artifício para captar e gerir simpatias — e a coisa faz-se. O presidente da FPF, Fernando Gomes, percebeu os perigos e os inconvenientes dessa situação e, para defesa da imagem da instituição, deu indicações precisas aos titulares de cargos nos sectores da Arbitragem e Disciplina/Justiça para seguirem aquilo a que já chamei, publicamente, a ‘lei Meirim’: não há presenças em jogos de futebol a convite de clubes ou SAD e, quando for necessária e fundamentada essa presença, serão accionados os serviços de protocolo da FPF.
O cacto: Outra forma de pressão
Há uma outra situação em que a FPF deve tomar medidas rápidas: acabar com as reuniões entre clubes e Conselho de Arbitragem durante as épocas desportivas. No início e no final, tudo bem. Durante, nem pensar. Na próxima época há a questão (nova) do vídeo-árbitro, que pode e deve merecer uma acção pedagógica do CA, com informação a colocar no espaço público, há reuniões que talvez se aceite que possam ser úteis nos primeiros 2-3 meses da temporada, apenas por causa do vídeo-árbitro, mas a partir de 2018/19 reuniões entre o CA e os clubes ao longo da época deviam cessar. Discutir erros de arbitragem ou nomeações é colocar em causa o princípio da autonomia. É tentar influenciar e são manobras (encapotadas) de pressão.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Este Rui Santos lembra-se de cada coisa!...
Leoninamente,
Até à próxima
O problema é que o "caracolinhos" diz .muitas verdades...
ResponderEliminarMas "quem as devia aprofundar... não sabe ler...só olha para os bonecos"...
O futebol...é um verdadeiro pantano e é preciso "sermos muito tótós"...para continuarmos a gostar dele...
E a ocuparmos o nosso lugar na bancada...
SL
Não é preciso ser bruxo... para reparar que toda a gente ganha pipas de massa com o futebol excepto os clubes. Agentes, dirigentes, jogadores, jornais, cartilheiros, bruxos e sabe-se lá mais quem... Mas aquelas capas que anunciam leilões absurdos por jogadores, na ordem de dezenas de milhões (gelado na testa alert!), que depois não saem porque o clube não quer (gelado na testa alert!), ou que quando saem, os R&C reflectem valores bem abaixo do que foi anunciado pelos jornais (quais vendilhões dos gelados)...
ResponderEliminarInbestigue-se! Agora apaguem tudo.
Ele, lembrar-se, ... lembra-se... mas fica-se por aí... Não terá Rui Santos a capacidade, ou mesmo a força/poder, para ir um bocadito (já não peço mais) mais longe?
ResponderEliminarRepito que quando a chicha começar a 'beijar as redes' tudo isto passa para segundo plano, quando devia existir uma relação causa-efeito permanente neste estado de coisas. Elas, as coisas, não estão dissossiadas... É a minha opinião...
Indo ao âmago da... coisa... Talvez se devesse começar por dissociar os tais 12 inspetores de uma entidade como a PJ..., mas para isso era preciso um MP com idoneidade e verticalidade para agir...
O que se passa é uma VERGONHA que ninguém, com responsabilidades, tem a coragem de enfrentar..., e como no caso dos e-mails, para não variar muito, quem se vai 'lixar' é o mexilhão...
ainda que, e bem, num estado de direito, não se pode acusar sem ter como provar... (esta é também a teoria das autoridades, porém esquecendo-se, que são elas que têm de conseguir arranjar provas para provar o que, repito, está à vista de toda a gente...)
SAUDAÇÕES LEONINAS