quinta-feira, 13 de julho de 2017

Aproveitar esta irrepetível conjugação astral!...




OS GRANDES CADA VEZ MAIS PEQUENOS

«Os fatalistas dirão que as coisas são o que são. É esta a dimensão do país, da economia, do mercado e o futebol não podia ser diferente. Até se pode dizer que, como negócio, como indústria geradora de receitas, é melhor porque ninguém vende tão bem como nós – falemos de novos talentos formados nas várias academias ou de rapazes que chegaram como promessas e saem daqui como certezas, veja-se os casos recentes de Lindelöf ou Ederson. 

E, no entanto, estando fortes e pujantes como vendedores, e a anunciarem intenções de gerir clubes na Premier League ou de se tornarem potências na ciência desportiva (caso do Benfica) a verdade é que os três grandes clubes do futebol português mantêm uma irrelevância à escala europeia que, por exemplo, é muito visível neste tempo de pré-época. 

Ninguém pediria (lá está, pela dimensão do mercado) que os nossos grandes andassem a lutar pelos jogadores mais fortes ou deixassem de alienar alguns dos seus activos, mas o que é verdadeiramente incompreensível, sobretudo nos vizinhos de Lisboa – e mais até no Benfica – é o número de jogadores que neste momento estão sob contrato, não se sabendo bem quem fica, quem sai, quem vai emprestado e em que condições. O caso bizarro do guarda-redes que vinha do Atlético Madrid – andou por aí uma semana a treinar-se e a tirar fotos e acabou devolvido – significa a falência de um modelo de negócio. Já nem falo da falta de respeito pelo jogador, tratado como mercadoria rasca. 

Se o Porto está este ano a salvo desta balbúrdia é só, e apenas, porque a questão do fair play financeiro impediu entradas até ao momento. Nas últimas épocas a loucura imperou. Os custos dispararam e ninguém fez contas. É estranho, mas não há duas leituras. As pessoas que assinaram os cheques estão lá todas. Ou quase. Mas Pinto da Costa está e na mesma cadeira. 

Mesmo o Sporting, que teve o ano passado uma experiência traumática, já passou de novo da ‘aposta na formação’ com reforços estratégicos para saídas sem sentido e entradas também sem grande nexo. Fora os vários monos por colocar. 

Sim, eu sei que somos um mercado remediado, mas quanto custa este circo, quem ganha e quanto se ganha com ele?! E quanto dinheiro é desperdiçado em jogadores que nunca chegam sequer a vestir as camisolas? É uma conta que obrigando a investigação séria e deparando com muitas portas fechadas, tem de ser feita.

Os clubes portugueses estão bem geridos? Poderiam estar muito melhor.»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)


Nenhum dos ditos "três grandes" em Portugal escapa à terrível, afiada, cortante e até irónica, ou sarcástica se quiserem, lâmina crítica de Nuno Santos. E com toda a propriedade, terei de o reconhecer.

A começar comodamente pelo Porto, estará a pagar um preço muito alto por todos os desvarios e erros de palmatória acumulados que tem vindo a cometer nos últimos pares de anos. Pinto da Costa há muito que deixou de ser o que era e já nem dentro da própria casa vestirá calças, facto absolutamente impensável há uma boa meia dúzia de anos. E o futuro, por muito que isso custe à sua indefectível coluna de adeptos, apresenta-se cada vez mais negro que o breu.

Passando ao Sporting, julgo que irá levar anos a esquecer e ultrapassar o espectacular falhanço da última temporada. E se os pés de Jorge Jesus, aparentemente, parecem recuperar das terríveis queimaduras provocadas por um ano inteiro a caminhar nas brasas da fogueira que ele próprio ateou, a farta cabeleira de Bruno de Carvalho também não saiu incólume, antes seriamente chamuscada, do incêndio para o qual também muito terá contribuído, soprando, soprando, quando o bom senso berrava e implorava a plenos pulmões por silêncio e muitos cobertores sobre as chamas. Parece ter aprendido a lição, abandonando a "vertigem do sopro" e o caso de Acuña, a confirmar-se a contratação, talvez prove à saciedade o tremendo erro que continua a persistir em cometer, preferindo uma corte de "yes-man" à competência que o futebol moderno exige, e vendo-se na contingência de ser bombeiro, em vez de se rodear de competência, fundamentalmente nas relações com o mercado e na solidez interna da estrutura. É um homem só e as culpas caber-lhe-ão em exclusivo, até ao dia em que ponha termo a uma auto-suficiência que, decididamente, só ele continua a não ser capaz de reconhecer constituir o seu mais grave e quase decisivo erro.

Finalmente para o Benfica, sobra apenas a ironia e o terrífico sarcasmo que, às escâncaras ou nas entrelinhas, Nuno Santos deixa bem sublinhados na sua crónica. Nada de surpreendente que uma estrutura e um desempenho colocados a um nível quase celestial por uma "central de propaganda goebbelsiana escarlate" - agora sem arcanjo! - acabassem beijando o pó das ruas da amargura, depois da destruição provocada pela "bomba atómica" ensaiada e lançada lá a Norte, no "cape canaveral das Antas". Os emails, sms, bruxos e outros estilhaços que varreram a "capelinha auto-promovida a catedral" têm vindo a provar a fragilidade de toda uma idolatria com pés de barro e o tombo será directamente proporcional à altura a que se projectaram.

Tudo somado, se Bruno de Carvalho e Jorge Jesus forem capazes de "domesticar" os seus danados narcisismos e em seu lugar souberem usar todos os seus outros e muitos predicados, a começar pela inteligência e a terminar na determinação de colar sobre a boca um largo e indestrutível adesivo, poderão, com uma assinalável dose de probabilidade...

Aproveitar esta irrepetível conjugação astral!...

Leoninamente,
Até à próxima     

2 comentários:

  1. Concordando com o fundamento na base do escrito... penso haver umas quantas nuances importantes... Desde logo, a questão da balança comercial... Até ver, o Sporting, estando de fato a poder incorrer no erro de não comprar cirurgicamente, terá, até ver... a sua balança comercial equilibrada... No caso dos 'amigos da luz' isso é uma impossibilidade, desde logo, porque os 'mendilhões' que por lá entram... têm logo na porta ao lado o seu destino traçado... ficando o clube com pouco mais que migalhas para suprir as suas necessidades ordinárias (termo técnico administrativo - não cabendo neste parágrafo quaisquer adjetivações à personalidade e caráter dos citados)...

    Num outro vector, muito mais importante e de análise, aqui sim de personalidade e caráter, temos a questão dos objetivos por detrás dessas inúmeras contratações... No caso da agremiação de Carnide... um dos objetivos passa por popular os seus acólitos de 'meninos queridos', daqueles que 'comerão a relva' contra o Sporting e, uns quantos, poucos mais, outros... e que pouco mais farão que 'pastar' enquanto o seu dono se 'passarenhar' nas suas terras...

    A inexorável questão das conquistas vai camuflando quase tudo... Neste particular e para nossa infelicidade, as coisas estarão até mais equilibradas visto a nação leonina, para além de ser exigente desportivamente, ainda que isso pouco nos tenha trazido ultimamente, carece de explicações substantivas acerca das questões por detrás... da bola... coisa que têm sido substantivamente explanadas e que, salvo crimes de lesa-sporting (sim confio - por isso estou a escrever estas linhas - mas pôr as mãos no fogo... ponho por mim e... iiiii...!!!), tão sobejamente conhecidos no nosso passado recente, têm feito bom eco no mais desconfiado dos sportinguistas... Já ali ao lado..., 'querem lá saber das coisas'... A bola entra...!?!?! Então somos nós contra o Mundo... Não há crimes nem dívidas... Estamos eternos...!!! Enfim, coisas de omnipotentes... e inimputáveis...!!!

    SAUDAÇÕES LEONINAS

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