E obviamente que não terá sido Bruno Prata o culpado!...

O BALANÇO (MELINDROSO) DE JESUS

«Bruno de Carvalho prometeu acabar com o bipartidismo do futebol português e foi nesse pressuposto que contratou Jorge Jesus, aceitou pagar-lhe uma enxurrada de euros e mais do que triplicou os gastos, na aposta mais cara e pagodeada da história do Sporting. Mas, a menos que consiga eliminar o A. Madrid e vencer a final da Liga Europa, o balanço destas três épocas só poderá ser ponderado como muito negativo. E isso continuará a ser verdade mesmo que acabe por ganhar a Taça de Portugal, para o que precisará de começar por anular a desvantagem de um golo trazida do Dragão. Porque acrescentar a eventual conquista desse troféu (onde, até agora, eliminou equipas da dimensão do Oleiros, Famalicão, Vilaverdense e Cova da Piedade) a uma Taça da Liga (em que empatou, na fase de grupos, com o Marítimo e o Belenenses e venceu o U. Madeira, para depois se superiorizar ao FC Porto e ao V. Setúbal, mas apenas nos penáltis) e a uma Supertaça (cuja disputa, já agora, havia sido garantida pelo triunfo de Marco Silva na Taça de Portugal) é uma fraco saldo se olharmos para o investimento de mais de 116 milhões de euros nos mais de 60 reforços contratados ao longo das últimas três épocas e para os 186 milhões de euros desembolsados nos ordenados (incluindo os 7,8 milhões brutos/ano que Jesus ganha) durante o mesmo período. Só no primeiro semestre deste ano, o futebol do Sporting gastou em vencimentos 37,7 milhões de euros (6,28 milhões/mês), valor idêntico ao do FC Porto (6,342 milhões/mês) e superior ao do Benfica (5,3 milhões/mês). Ora, no tempo de Marco Silva gastava, em salários, menos de um terço.

Claro que as análises no futebol não devem ser reduzidas à frieza dos números. Ninguém ignora, por exemplo, que, no primeiro ano, Jesus alcançou a maior pontuação da história do Sporting (só perdeu para o recorde de 88 pontos somados por Rui Vitória) e ganhou cinco "clássicos". E nesta contabilidade tem também de entrar a qualidade de jogo e a competência revelados em muitos momentos da regência de Jesus. Prova disso foi a oposição oferecida, esta época, frente a equipas como o Barcelona e a Juventus, bem mais impactante do que eliminar o Astana ou o Viktoria Plzen da Liga Europa. Mas quem não consegue entender o insucesso dificilmente estará preparado para conviver com a vitória. E Jesus tem de perceber que para conseguir resultados tão minguados não deveria ser necessário gastar tanto (Paulo Bento fez melhor e com recursos muito menores). A inflacção na aposta só possível com as vendas milionárias de João Mário, Slimani e Adrien Silva e com o novo contrato dos direitos televisivos vendido à NOS (um encaixe de 515 milhões de euros até 2028), isto porque o Sporting já teve de recorrer ao "factoring" e, só no último semestre, já fez uma antecipação de receitas no valor de 22 milhões de euros, o que não evitou os atrasos nos pagamentos ao Racing Avellaneda e ao S. Braga e pode vir a comprometer a gestão futura.

É neste âmbito que se entendem as informações saídas de Alvalade e que apontam, por exemplo, para a intenção de reduzir os gastos em 20 milhões de euros (cerca de um quarto do total), recuando-os para o nível de há duas épocas. Fazer regressar Francisco Geraldes, Domingos Duarte e Matheus Oliveira - presume-se Pereira! - e voltar a olhar com outros olhos para Alcochete (onde há talentos emergentes como Rafael Leão) são propósitos que fazem todo o sentido, tal como libertar-se das "gorduras" – Doumbia e os seus 2,1 milhões de euros limpos por mês - presume-se por ano! - à frente de todas. Mas até que ponto esse regresso ao passado será possível com um treinador insaciável como é Jesus? A dúvida faz sentido porque foi exactamente essa dificuldade que esteve na base da sua saída do Benfica. O ideal para o Sporting talvez fosse garantir uma equipa competitiva, mas mais barata, e ao mesmo tempo a continuidade de Jesus, porque não faz sentido pagar quase oito milhões para dispensar um técnico tão competente. Mas é sempre mais difícil conseguir esse pacto com alguém quando, ao mesmo tempo, se liberta a informação de que já se trabalha no perfil do seu substituto. E este é um problema que não se resolve com cortes ou mais receitas. Bruno de Carvalho, que transformou o Sporting no clube mais ruidoso do planeta, continua sem perceber que um líder precisa de inspirar e não de deprimir...»

(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)

Por mais vicissitudes que tenha sofrido o tratamento de todos estes números, nunca deixarão de nos conduzir à dura realidade actual do Sporting!...

E obviamente que não terá sido Bruno Prata o culpado!...

Leoninamente,

Até à próxima