JESUS, O REGENTE
«Guardiola costuma dizer que um dos principais segredos de uma boa equipa está na ordem e na necessidade de todos saberem rigorosamente o que fazer em cada instante. É também essa característica que hoje distingue as equipas de Jorge Jesus, um treinador que se aparentela cada vez mais com um regente musical. Jesus também não deixa nada ao acaso e, através dos ensaios obstinados, luta por conseguir que a percussão sobre os bombos e os pratos resulte de forma harmoniosa com o sopro dos clarinetes e fagotes e com o teclado do cravo, numa riqueza de timbres em que os improvisos e os remendos só são admitidos aos solistas – e, mesmo aí, só em situações específicas. A generalidade da crítica especializada sobrelevou, e com razão, a importância que a troca de posições de Bryan Ruiz com Bruno César teve na vitória sobre o Porto: o costa-riquenho, além de desinspirado, puxava da harpa em momentos em que a pressão e as transições de Herrera e André exigiam era a multiplicidade e o vigor da bateria. Aquela simples troca posicional foi o momento de transformação do jogo e é justo salientar que o técnico comprovou a ardileza que há muito se lhe reconhece. Mas, se é verdade que Jesus está cada vez mais culto no apuro da sua palheta futebolística, também importa destacar os ganhos de maturidade táctica que se lhe notam desde que se mudou para Alvalade. Hoje, viu-se domingo, já é possível ver o seu 4x4x2 clássico desdobrar-se (defensivamente) num 4x4x1x1 (quando troca um segundo avançado por Bryan Ruiz ou Bruno César) ou até num 4x1x4x1 (quando entra Bruno Paulista e Adrien se adianta). O Sporting raramente se descompensa, algo cada vez mais banalizado nas grandes equipas, mas que Jesus nem sempre levou em conta (lembram-se da indiferença sobranceira à possibilidade de usar, principalmente na Champions, Gaitán nas costas do ponta-de-lança?). Este Sporting é bem diferente do Benfica sem freno que Jesus treinou durante meia dúzia de anos, que tinha um ritmo atormentador, mas muitas vezes pagava caro o excesso de velocidade – e, por isso, ganhou menos do que podia realmente ter ganho.
Jesus é hoje mais do que um treinador. É o único verdadeiro manager do futebol português, o único que acumula a liderança técnica com o papel de director desportivo. A sua posição dominante já lhe permitiu contratar mais de duas dezenas de jogadores e substituir alguns que ele próprio mandara contratar. Neste momento, ainda pode citar Rúben Semedo e Gelson como exemplos recentes da otimização da formação, mas veremos quanto isso irá durar agora que chegaram Douglas e Campbell. Claro que a saída de Slimani seria uma dor de cabeça para qualquer treinador, mas a quantos na história do Sporting foi oferecida uma alternativa da estirpe e com o preço de Bas Dost? Bruno de Carvalho faz-lhe todas as vontades e, valha a verdade, o presidente merece o elogio de ter percebido a vantagem de comprar antes de vender. Por tudo isso, é difícil acreditar que Adrien venha a ter grande sucesso nesta última tentativa desesperada de forçar a saída. A menos que o Leicester se apresente com um malão irrecusável de libras, Jesus não se importará de lidar com um Adrien ‘chateado’…
O Porto já havia provado, em Roma, ser capaz de fazer boa parte daquilo que distingue as boas equipas. E voltou a demonstrá-lo em Alvalade. Se não fez melhor e durante mais tempo foi talvez porque ainda não tem os mesmos meios e o tempo de refinação do Sporting de Jesus. É impossível, nesta altura, exigir mais a Nuno, até porque havia sempre que lidar com a factura física e mental da surpreendente façanha conseguida poucos dias antes em Itália. Pode, claro, questionar-se o lançamento apressado de Óliver, mas quem resistiria à tentação? É ainda um Porto em PdR (processo de reforma), mas já capaz de provar que não irá negociar o seu novo estilo nem abdicar de jogar com cada pedra no seu sítio. Até por isso, não havia necessidade de acusar o Sporting do recurso a uma agressividade intimidatória. Creio ter sido o argentino José Pekerman, um treinador amante do jogo combinativo e com estilo, a dizer que o futebol deve ser jogado com alegria, mas também com uma faca entre os dentes. E quem deveria entender bem esta imagem até deveriam ser os responsáveis de um Porto que conseguiu boa parte do seu invejável palmarés à custa de uma grande atitude competitiva. Não colhe também, como é óbvio, a desculpa dos erros arbitrais, uma tentação que tem tanto de infundada como de contagiosa, como o Benfica já tinha mostrado na semana passada.»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)
Dá-me ideia que Bruno Prata estará a protagonizar como jornalista, a nuance de refinamento técnico e táctico que inteligentemente parece ter descoberto finalmente em Jorge Jesus! Esta sua crónica de hoje afirma-o de forma gritante e incontornável. E note-se que estará a ser dos primeiros jornalistas portugueses a aperceber-se que Jorge Jesus nunca mais foi o mesmo desde que atravessou a rua para abraçar o projecto do Sporting.
Excelente também as apreciações que faz sobre o papel que Bruno de Carvalho está a desempenhar neste estonteante Verão quente de 2016, sobre a estúpida reacção das gentes do Porto à mais do que justa e merecida vitória do Sporting
no último clássico e, pasme-se, que dizer do "comovente" recado que sobre o mesmo tema envia ao "folclore benfiquista" a propósito do empate com o V. de Setúbal?!...
Já por aqui deixei várias vezes implícito o que agora passo a afirmar de forma explícita e sem subterfúgios:
O futebol português e a classe ds jornalistas portugueses, precisam como de pão para a boca de um Sporting campeão! Precisam de perder a subserviência aos "ddt's", para poderem evoluir para patamares europeus a todos os níveis que se possam imaginar. Precisam de abandonar definitivamente a estúpida "infância" em que se deixaram enredar.
Um novo ciclo de vitórias leoninas poderá ser a carta de alforria de muita gente!...
Leoninamente,
Até à próxima
Um dos posts que mais prazer me deu ler nos últimos tempos... E tão mais importante e verdadeiro seria se, num futebol sério e honesto, tivéssemos embuídos... Ora, aqui é que esbarra a argumentação que por mais válida que seja..., e é..., ái não que não é... rapidamente será banida por um sistema que fomentará os resultados que muito lhe aprouver para capitalizar os interesses que todos conhecemos... E ai, todos sabemos, já ninguém se vai lembrar da inteligência evolutiva do treinador manager... (o 2º lugar será sempre o primeiro dos últimos... Então quando veste de verde-e-branco... upa upa!!!...)
ResponderEliminarBem sei que tudo terá um fim..., um dia, talvez... Poderei ser eu o desmancha-prazeres mas não acho, para já pelo menos, que este ano possa ser diferente do passado... (e até me parece, realmente, que estamos mais fortes e consistentes..., pelo menos para já...)
Independentemente do que aconteceu no domingo (continuo a achar que o primeiro golo do SPORTING só não foi invalidado porque o martins..., o do apito, não viu realmente nada... de fato - que eu até acho que pode ter havido, ou no limite, acho verossímil as reivindicações - não intencional mas, eventualmente, claramente condicionante do desfecho da jogada...) Mas o que vi..., e possivelmente o martins, o do apito, também viu, ao intervalo..., mas o que eu vi, foi um a tentativa de condicionar o jogo na segunda parte com cartões, que por muita razão que pudessem ter, e tiveram, sejamos justos..., nunca tiveram correspondência nas outras camisolas... Para mim indicia um comportamento desonesto... e comprometido... E isso é que me assusta...
Quanto as considerações técnicas..., que eu pouco percebo... (4x1x4x1... deve dar... 16... :))) ), nada a dizer... até porque todos vimos, de há muito, o efeito que JJ teve no comportamento da equipa e da estrutura, enquanto todo e individualmente falando... A sua evolução enquanto treinador, interessando-me, e muito..., pouco me interessa... Interessa-me, muito mais, o COMPROMETIMENTO esse sim, em minha opinião, definitivo para que o seu trabalho, enquanto durar, me faça querer que continue... E quando falo do treinador falo também dos jogadores...
Quanto ao "Sr." Presidente... Com erros de crescimento, de juventude, impetuosidade ou arrogância ou o que queiramos chamar... BdC É A CARA DESSE COMPROMETIMENTO e não é de agora... e por isso - nunca poderemos fazer o contraditório, felizmente - a GRATIDÃO SERÁ ETERNA... (Não é nenhum Deus - que a minha, idêntica, condição agnóstica também não é capaz de objetivar essa terminologia - mas foi o ARDIL MESTRE da mensuração milagrosa que precisávamos...)
Um único reparo ao seu último parágrafo... A subserviência não se perde... Uma vez subserviente, subserviente toda a vida... (Está-lhes no sangue... como ao escorpião) por isso é que é jornalixo e não jornalismo... Não se pode confiar nesta gente... particularmente nos que se alvitram de imparciais e acima de qualquer suspeita... E como Churchill só houve um... Para mim é "aniquilá-los"... não os quero... nem perto... quanto mais longe...!!!
SAUDAÇÕES LEONINAS
Caríssimo:
ResponderEliminarAcabo de ler umas declarações do Presidente do Lyon, que terá afirmado em público que Jorge Mendes anda à procura de clube para Adrien.
Ora até que enfim, como diria o Poirot, surge a peça que faz sentido no puzzle.
O Sporting está forte e ameaça a hegemonia dos meus queridos DDTs? Pois vá de contactar os empresários dos jogadores do Sporting e tentar desmontar aquilo.
Eu já desconfiava de tanta proposta, e mesmo no fim da janela, para não dar tempo de repor.
Agora tenho a certeza!!
Mais uma palavra so para esta atitude dos clubes que contactam primeiro o jogador, oferecem rios de dinheiro para desestabilizar e depois tentam comprar barato: como dizem os velhos lobos do mar: " stand fadt", ou seja, agarrem-se bem.
Grande Abraço
José Lopes