segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Bambúrrio vermelho e pecados verdes!!!...


Como se diz bambúrrio em alemão?

«O sucesso alcançado com uma boa dose de felicidade fará sempre parte das memórias do futebol e não deve deslustrar quem é amparado por uma contingência que até é um dos mais ponderosos fundamentos do sucesso deste jogo. Daí que seja perfeitamente aceitável a forma exultante como jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos do Benfica celebraram o triunfo sobre o Sporting na Luz – isto, claro, salvaguardando os inaceitáveis excessos dos benfiquistas que invadiram o relvado. Mais a mais porque os golos do Benfica surgiram já nos descontos e quando a derrota parecia irreversível. Mas até essa circunstância comovente deveria ter contribuído para que o treinador do Benfica tivesse o fair-play e, principalmente, a boa educação que exige um cargo com tamanha responsabilidade. Em vez disso, Roger Schmidt teve um inaceitável acto de pescorrência e má criação para com um jornalista que se limitou a ser jornalista.

Gonçalo Ventura, o repórter em causa, tem uma carreira inatacável ao serviço da Antena 1 e da RTP e a defesa do seu profissionalismo e da sua deontologia não pode ser confundida como uma mera reacção corporativista, antes como um acto de justiça. Questionar se o resultado tinha sido melhor do que a exibição do Benfica mostrou, desde logo, que esteve atento às incidências do próprio jogo. E a forma ignóbil como Schmidt pretendeu insinuar que a pergunta tinha por trás motivações clubísticas não se tratou de uma inadvertência fortuita, porque, instantes depois, todos ouvimos o treinador a insistir na ofensa.

Schmidt podia ter optado por não responder à pergunta. Ou podia tê-la contornado habilmente. Ninguém lhe levaria a mal se tivesse, por exemplo, reclamado o mérito da utilização de Morato como lateral, solução que abriu caminho ao regresso do 4x2x3x1 e a um Benfica bem mais equilibrado e confortável, mesmo que isso não clarifique porque usou, durante três jogos, um sistema com três centrais que deixava a sua equipa desaconchegada, principalmente João Neves e Rafa, ou porque insistiu na contratação de Jurásek. Poderia também ter relevado o espírito solidário que o Benfica evidenciou mesmo nos longos períodos do primeiro tempo em que o Sporting foi mais lúcido e perigoso. Outra via inteligente teria sido valorizar a prestação individual de Trubin e, principalmente, de um João Neves que soube manter a equipa com a cabeça fora de água quando ela ameaçava submergir perigosamente. Em vez disso, Schmidt tentou vender-nos gato por lebre. Como se não tivesse ficado evidente a superioridade leonina enquanto estiveram 11 contra 11. E como se o Benfica não tivesse usado e abusado dos cruzamentos como única forma de tentar rentabilizar a superioridade numérica. E sendo verdade que o golo tardio da vitória foi marcado por Tengstedt, nem isso invalida a sensação de que as substituições efectuadas pelo alemão nada acrescentaram em termos de qualidade futebolística.

Mantenho a opinião de que Schmidt é um técnico habilitado e representante de uma escola que pode ser benfazeja para o futebol português. Mas começa a ser evidente que enfatizei em demasia a possibilidade de a sua vinda poder vir também a contribuir, em termos de comunicação, para o arejar do nosso ecossistema futebolístico. De facto, devia ter valorizado mais alguns dos episódios de irascibilidade que já se lhe conheciam na Alemanha e na Holanda. Daí talvez o meu maior enfado, por muito que Schmidt não tenha feito nada de muito diferente do que já fizeram outros técnicos mais ou menos célebres.

A Schmidt já tinha estalado o verniz aquando de algumas derrotas do Benfica, como se a sua urbanidade dependesse do sucesso. Desta vez, o esmalte estalou-lhe também na hora da vitória, talvez porque nem ele próprio percebeu como é que conseguiu ganhar este jogo. De facto, tendo em conta a evolução da partida e a posterior reacção do treinador na sala de imprensa, quase apetece perguntar como se diz bambúrrio em alemão? Sendo que o recado, atendendo à sua promessa não cumprida de aprender português, fica mais íntegro se recorrermos ao tradutor do Google: Wie sagt man Glück auf Deutsch?

JOÃO NEVES
A Schmidt deve ser tributado o mérito de ter sido o primeiro a perceber que João Neves é um jogador diferenciado e de top classe. Voltou a ser impressionante como um mancebo de 19 anos acomodou o Benfica nos seus piores momentos, vencendo duelos (17) e somando desarmes (7) e intercepções (4). Marcou ainda o primeiro e mais importante golo do Benfica, aproveitando primorosamente um canto ensaiado em que Morato foi também inteligente na movimentação.

RÚBEN AMORIM
Desaire que perturba
O Sporting queixa-se da sorte madrasta e é concebível que este tenha sido, para Rúben Amorim, o desaire mais difícil de digerir desde que chegou a Alvalade há três anos e meio. O técnico leonino soube antecipar o regresso do Benfica à sua estrutura mais rotineira. E foi também arguto quando, antes do jogo, meteu pressão sobre os seus próprios jogadores, relevando a importância de garantir uma vantagem de 6+6 pontos sobre o Benfica e o FC Porto, algo de que não há memória à 11ª jornada.
Esteve muitíssimo perto de o garantir, mas o facto de ter feito o suficiente para justificar, pelo menos, a divisão de pontos não deve fazer com que o desaire seja deslindado, pelos seus responsáveis, como um caso de mero azar ao jogo. Claro que os dois golos marcados pelo Benfica em tempo de descontos (e no espaços de apenas três minutos) irá ser sempre relacionado com a expulsão de Gonçalo Inácio, que tem qualidades excepcionais, mas também a candura normal de um jovem de apenas 22 anos. Mas o Sporting até pareceu confortável na generalidade dos 45’ em que jogou em inferioridade numérica, devendo o diagnóstico ser mais geral, por forma a perceber por que razão o Sporting apresenta a defesa menos fiável entre os seus mais directos adversários, tendo sofrido 19 golos nos 17 jogos oficiais que realizou. Talvez isso também ajude a explicar porque não venceu nenhum dos últimos dez clássicos.
O Sporting apresenta-se, nesta altura, como a equipa portuguesa mais dinâmica e com melhores princípios, mas é também uma equipa muito jovem, faltando perceber como, a partir de agora, irá lidar do ponto de vista emocional com uma derrota que criou angústia como poucas

Bambúrrio vermelho e pecados verdes!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

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