Moralismo selectivo
«No futebol como no amor, o que é distinto cativa, mas é o caráter que separa o efémero daquilo que perdura. O jovem Samu, avançado do FC Porto, tem demonstrado um potencial inegável, conjugando uma potência contagiante com um faro de golo que impressiona, revelando-se – para lá de qualquer margem de dúvida, com a melhor aquisição da sua equipa nesta conturbada temporada.
O internacional espanhol é um diamante em bruto e tem tudo para inscrever o seu nome no "Olimpo" do futebol. Contudo, o encontro frente ao Gil Vicente trouxe à superfície uma outra sua faceta que, sendo própria da idade, não deixa de merecer reparo: o descontrole emocional.
No final de uma partida que os adeptos portistas desejarão esquecer – e que ditou o despedimento de Vítor Bruno – depois de o golo do empate ter sido revertido pelo VAR e transformado numa grande penalidade que resultou no 3-1 final, o jovem avançado insultou o árbitro e esmurrou um placard que dois trabalhadores transportavam. Não sendo dramático – porque o sangue quente da juventude em todos nós já borbulhou –, foi, ainda assim, um espectáculo lamentável e impróprio no contexto do futebol de alta competição, que mobiliza multidões e inspira gerações.
Não escrevo para crucificar Samu, nem com o intuito de beliscar a sua imagem pública. O meu Sporting também não está imune a polémicas, e exemplos não faltam: atente-se no caso de Nuno Santos, frequentemente, alvo de críticas exacerbadas e sanções excessivas, muitas vezes acompanhada de uma insuportável altivez moral. Acabou – e bem – castigado e é, precisamente, este o cerne da reflexão: ou há moralidade ou comem todos.
Os regulamentos não são adornos, mas antes compromissos - firmados pelos clubes - e que existem para ser cumpridos. Quando um jogador ultrapassa os limites, o clube, os adeptos e o próprio atleta devem aceitar as consequências.
Será que o futebol português terá a coragem de aplicar o mesmo peso e a mesma medida a todos, independentemente do emblema que carregam ao peito? Ou continuaremos a reservar a exigência para com a letra de Lei para os mais pequenos?
Samu merece tudo o que de bom o futebol tem para oferecer, e continuará a ser por mim admirado. Porém, antes, uma sanção é imperativa. Não para o prejudicar, mas para o educar e esculpir como ídolo.
A disciplina desportiva não pode continuar a ser um instrumento refém das conveniências de quem governa o futebol, mas, ao invés, elevar-se como garante da boa imagem das nossas competições. A quem hesitar sobre o lugar onde mora a razão, bastará um brevíssimo olhar sob Inglaterra.»
Ámen!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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