domingo, 25 de junho de 2017

Receio bem que não se trate apenas de uma premonição!...


ÓDIO PELO FUTEBOL E PELO RESTO

«O jornalista Nuno Martins, da equipa cá da casa, escreveu no sábado uma frase no Facebook que tem tanto de simples como de certeira: "No futebol português, deixou de haver rivalidade e passou a haver ódio".

Nos últimos anos do salazarismo, quando o regime apodrecia, os prosélitos do Estado Novo, na tentativa de ilibar o ditador, espalharam a ideia de que Salazar era um bom homem e que os males que então atormentavam os portugueses se ficavam a dever à gente que o rodeava – uma cambada de malandros que chamava a si as benesses e desacreditava o autocrata, que nem sonharia com as malfeitorias que em seu nome se levavam a cabo. Era uma treta com um fundo de verdade.

Acontece algo de semelhante no futebol português – o único negócio que nunca sente a crise da falta de clientes – que teve a desdita de se tornar ponto de confluência de dois interesses demasiado fortes para serem travados. De um lado, a pulverização da informação, que saltou das páginas dos jornais para as multiplataformas e tornou a comunicação um fenómeno complexo e quase incontrolável, o que obrigou os responsáveis por clubes e sociedades desportivas a rodearem-se de "assessores" para conseguirem dar conta do recado.

Do outro lado, um interesse igualmente poderoso, nascido dos tempos difíceis por que passam os média desde o início do milénio, particularmente a partir de 2005: uma imensa legião de desempregados que se espalhou por onde podia, procurando desesperadamente um meio de subsistência. Muitas dessas pessoas têm hoje profissões distantes, reformaram-se cedo ou vivem de biscates, mas os mais afoitos, espertos e bons vendedores de si próprios perceberam que encostar-se aos principais emblemas, fingir dedicação total e mostrar servilismo absoluto podia resultar em fonte de rendimento.

Trata-se de uma fauna que mente se tiver de mentir, e tem de fazê-lo muitas vezes, que insulta se tiver de insultar, e disso depende, que recorre a tudo para sobreviver, o que é da natureza humana. Uma fauna de semeadores de ódios, de cães de fila de quem paga e tem se manter na sombra, de pequenos títeres que serão esmagados mal deixem de servir o dono.

Os profissionais sérios dos aparelhos dos clubes são e continuarão a ser as maiores vítimas desta ausência de escrúpulos. Sim, e se os campeonatos forem suspensos como alguns diletantes exigem? Então, não haverá jogos, nem transmissões televisivas, o dinheiro parará de correr e a falência chegará. Lindo serviço. Permitimos que uma cáfila que odeia o futebol – e odeia tudo o resto – tomasse conta do negócio. E agora, faltando coragem para limpar os balneários e punir os delinquentes, opta-se por suspender o futebol. Que burros somos.»
(Alexandre Pais, Outra vez segunda-feira, in Record)


Quer-me parecer que Alexandre Pais terá pretendido, acima de tudo e de todas as considerações que faz, lançar um duro repto à "fauna que mente se tiver de mentir, e tem de fazê-lo muitas vezes, que insulta se tiver de insultar, e disso depende, que recorre a tudo para sobreviver, o que é da natureza humana, uma fauna de semeadores de ódios, de cães de fila de quem paga e tem de se manter na sombra, de pequenos títeres que serão esmagados mal deixem de servir o dono", constituída pelos que "mais afoitos, espertos e bons vendedores de si próprios perceberam que encostar-se aos principais emblemas, fingir dedicação total e mostrar servilismo absoluto podia resultar em fonte de rendimento."

Mas "bem prega frei tomás"! A fauna apenas se lembrará das suas palavras quando se vir obrigada a trocar a enxada pela picareta, quando lá em casa apenas restarem umas côdeas de pão bolorento, porque "esmagados" e deitados para o lixo, logo que deixarem de servir aos "donos"...

Receio bem que não se trate apenas de uma premonição!...

Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. Constatação ou aviso à navegação? É que já toda a gente pôde perceber que a fonte de rendimento da "cáfila" era a mesma dos padres da seita: os carrosséis do mendismo-vieirismo, erigido em cartilha oficial do Estado Lampiânico. Da mesma forma que mesmo sem os emails já toda a gente tinha tido oportunidade de perceber que havia demasiada sintonia entre comentadores e jornaleiros sobre a colectividade e que os campos inclinavam muitas mais vezes para os mesmos e contra os mesmos, não sendo necessariamente preciso quinhentinhos ou fruta da época, mas tão só as bênçaos certas sobre bispos e vigários.

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  2. Claro que 'lá em casa", na dele..., é tudo gente séria...

    Oh Pais... como se diz agora... "hashtag BARDAMERDA"... Tens muito que penar para te descolares do teu próprio escrito... É mesmo assim tenho dúvidas...

    SAUDAÇÕES LEONINAS

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  3. "mas os mais afoitos, espertos e bons vendedores de si próprios perceberam que encostar-se aos principais emblemas, fingir dedicação total e mostrar servilismo absoluto podia resultar em fonte de rendimento"
    Eu trocava a palavra "emblema" por "jornais" e diria que Alexandre Pais está a falar de...Alexandre Pais
    Que raça...

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