António Costa não perdeu a cabeça. E isso é óptimo
O seu desempenho pré-crise foi péssimo, mas foi péssimo em quase todo o lado. Felizmente, o seu desempenho pós-crise tem sido bastante bom.
«Quando esta crise começou, há dez dias, eu escrevi um artigo intitulado “O diabo chegou – e é um vírus” que irritou imensa gente, devido à tendência um bocado salazarista (que combina na perfeição com a doutrina dos “tempos de guerra”) que reclama unanimidade nacional em tempos de crise. Como já aqui disse muitas vezes, e não me cansarei de repetir, a única unanimidade que devemos ter, enquanto povo, é no empenho e na energia com que enfrentamos esta crise sem precedentes – mas esse empenho e essa energia não passam por suspender a dissensão política, científica ou económica. Bem pelo contrário: é fundamental continuar a discutir, a debater e a argumentar, envolvendo as melhores cabeças deste país, para que esta emergência de dimensão gargantuesca possa ser ultrapassada da forma mais competente possível.
Competência é mesmo a palavra-chave. O coronavírus há-de passar, como passam todas as epidemias. A grande dúvida é o estado em que deixará o país – se completamente arrasado e paralisado para a próxima década, com dezenas de milhares de mortos, uma queda brutal do PIB, uma subida brutal do desemprego e a destruição de uma percentagem brutal do nosso tecido económico; ou se abalado mas vivo, e pronto a recuperar com mais estamina e inteligência do que nas últimas décadas. A diferença entre uma coisa e outra, entre a recessão catastrófica ou o abalo temporário, está no governo, sobretudo no governo, e quase exclusivamente no governo.
É muito giro ver gente de esquerda por aí aos gritinhos de entusiasmo: “Ah, agora até os liberais reconhecem a importância do Estado!” São gritinhos profundamente idiotas. Não há nenhum liberal que defenda que o mundo se organiza sem Estado e sem governo. Isso é, quanto muito, um anarquista, não um liberal. Um liberal defende um Estado limitado e com funções específicas, e uma delas é certamente o dever de enfrentar com firmeza o combate a uma crise como esta. Sim, este é mesmo o tempo dos governos, o tempo dos políticos e o tempo das grandes lideranças. Os líderes fracos verão no coronavírus um azar dos Távoras e murmurarão à noite para a almofada: “Porque é que isto haveria de me acontecer a mim?” Os líderes fortes olharão para o que está a acontecer como a oportunidade das suas vidas, arregaçarão as mangas e partirão para a luta com o entusiasmo de quem está convencido que tem todas as qualidades para fazer a diferença.
No artigo que referi, eu escrevi o seguinte: “O coronavírus vai ser a prova do algodão do governo de António Costa. Pela qualidade do combate à epidemia se verá se ele é um político de mão-cheia ou apenas alguém que teve imensa sorte nos últimos quatro anos.” Dez dias depois não retiro uma sílaba ao que disse, e continuo convicto de que António Costa tem pela frente o maior desafio da sua vida política – esta é mesmo a prova do algodão de quanto ele vale como estadista. O seu desempenho pré-crise foi péssimo, mas foi péssimo em quase todo o lado. Parece não ter havido um só país no mundo ocidental que se tenha preparado decentemente para a crise. Felizmente, o seu desempenho pós-crise tem sido bastante bom. Arrumou a ministra da Saúde num canto, borrifou-se para os conselhos daquele Conselho de má memória, e tem mostrado bom-senso na implementação das medidas, num esforço de equilíbrio entre contenção e preservação da economia. No meio desta desgraça, Costa está com a cabeça no sítio. Que assim continue, é o meu desejo mais sincero.»
Há três dias atrás, algo me dizia que eu 'tinha' de ler este trabalho de João Miguel Tavares. Poupo-vos a maçada de vos explicar porquê. Seriam tantas as razões, algumas até bem pessoais! Mas o acesso apenas era permitido a subscritores...
Perdi tempo precioso, armado em 'chico esperto', em busca de expedientes que foram sucessivamente fracassando, ao contrário de algumas tentativas já gastas pelo tempo. Até que hoje, 'ruminando' ainda aquele meu 'sexto sentido' inicial, 'atirei-me de cabeça' e as minhas expectativas não saíram defraudadas.
Deixo-vos por aqui a excelente perspectiva do meu primo, JMT. Não, concerteza que não sou liberal, como ele. Nem do Benfica! Mas aprecio o seu 'pão, pão, queijo, queijo' e a sua inteligência, para mais neste hora dolorosa para todos nós...
Obrigado João Miguel. Um abraço!...
Leoninamente,
Até à próxima
Musica, nasci pra musica.........
ResponderEliminarJa há pessoal hospitalar a colocar sacos de plastico na cabeça.
Mascaras,barretes, viseiras, equipameto especial, cadê.