A política do silêncio
Faz pouco sentido clamar por mística e depois agir, fora do relvado, sempre com indiferença e apatia
«Há uns anos, o Sporting decorou o túnel de Alvalade com fotos de adeptos raivosos e foi o fim do mundo até que a UEFA, caída de paraquedas no assunto, mandou trocar os hooligans por margaridas e lilases. Mas o diagnóstico estava certo. O Sporting era demasiado tecnocrata, conciliador e previsível, apesar de falar muito de arbitragens desde sempre. A maior conquista de Bruno de Carvalho foi ter obliterado essa imagem de clube de cavalheiros do século XIX, ainda que, eventualmente, exagerando na dose e criando, no lugar dela, radicalismos com tantos ou mais inconvenientes. O lado positivo é que toda a gente, equipa incluída, tem a percepção de que o Sporting está sempre na luta e de olhos abertos, mal ou bem. Não se trata só de intimidar os árbitros, nem esse é um atributo desejável para um futebol higiénico, como é evidente. Falo de competitividade e adrenalina, também fora do campo; falo de mostrar cá fora aquilo que se exige aos jogadores lá dentro e, sobretudo, de exibir número, força e autoridade quando se pressente que há uma oportunidade para isso. Faz pouco sentido falar muito de "mística" ou similares e depois passar para o exterior uma crescente imagem de apatia e passividade, ou até de isolamento e falta de partidários, mais ainda nos casos em que os adversários vão conseguindo convencer o público de que ali já não há nada o que recear. Às vezes, o silêncio é mesmo só medo do que os outros vão pensar se abrirmos a boca.»
(José Manuel Ribeiro, Opinião, in O Jogo)
Se a presunção ungisse a minha personalidade, diria que esta crónica era uma resposta bem esgalhada ao último texto que ontem aqui publiquei, em que partindo dos ensinamentos que Mahatma Gandhi nos legou, fazia a apologia do divórcio entre a palavra e a acção, colocando-as a viver separadas em Alvalade.
Mera coincidência portanto o repúdio que hoje JMR faz ao silêncio, chegando até ao extremo de lhe colar o rótulo e consequência do medo. Creio que percebo a intenção subjacente a tão inusitado pensamento: um duplo recado tendente a recolher benefícios, tanto pela manutenção do espalhafato de uns, quanto pelo encorajamento à verve daqueles a quem o medo eventualmente esteja a cortar a palavra. Terá julgado JMR ser capaz de com um único cajado matar dois coelhos, coisa que não poderá ser criticável ou pouco inteligente, a questão estará em saber se o conseguirá.
Julgo entender que o alicerce da teoria que repudia a "política do silêncio" de JMR, resultará da fragilidade de entender o silêncio como inacção. Ora Mahatma Gandhi nunca o terá dito, muito pelo contrário, ao afirmar que "a palavra e a acção não andam bem juntas". Exactamente porque logo conclui que "a Natureza trabalha continuamente em silêncio"! Em silencio sim, mas jamais descurando a acção! Ela trabalha contínuamente. Nesta condição...
Silêncio não determina necessariamente apatia e passividade!...
Leoninamente,
Até sempre, Sporting Sempre!...
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