sábado, 5 de novembro de 2016

Entretanto, os arautos da desgraça vão erguendo trombetas!...



SPORTING - MUITA PARRA E... POUCA UVA

«Os anos em que o Sporting se atrasou na conquista pelo título máximo nacional recomendariam, no momento da quebra da ‘linha de continuidade’, um Sporting virado, primeiro, para a sua realidade interna e, portanto, para a recuperação financeira alicerçada num ideário desportivo compatível com aquilo que são as suas possibilidades e só depois virado para o combate aos miasmas da realidade externa.

Bruno de Carvalho não entendeu assim, muito por força do seu espírito inquieto (ai o ADN) e decidiu, a uma velocidade vertiginosa – mais susceptível ao erro – ‘atacar’ a realidade interna e a realidade externa, com as garras (de leão) bem espetadas. Tudo ao mesmo tempo. A força social que o Sporting adquiriu ao longo dos tempos é, hoje, o produto da sua história. O lado bom mas também o lado mau. É legítimo que Bruno de Carvalho queira ver o Sporting agir e reagir como ‘clube grande’, mas a verdade nua e crua é que o Sporting deixou há muitas décadas de ser um clube hegemónico, no futebol. Ele sabe que a conquista do título constitui, após tão longo jejum, a alavanca da sua afirmação como presidente. Por isso, aproveitou a oportunidade de o Benfica ter largado Jorge Jesus e matou dois coelhos com uma cajadada: abortou a contestação (que já se ouvia) em redor da forma como geriu o ‘processo Marco Silva’ e contratou o treinador que, em menos tempo, consegue optimizar o rendimento dos jogadores…

A opção quase produziu efeitos na primeira época de JJ no Sporting: uma equipa a jogar bom futebol e a confirmar a tese de que o treinador é capaz de valorizar e muito os activos, pelo que o dinheiro envolvido na sua contratação – muito acima da média – seria compensado pela valorização conseguida entre os jogadores. O Europeu foi a cereja no topo do bolo, mas o trabalho estava feito. O resultado não foi melhor (podia ter dado para o título) se o Sporting não tivesse enveredado por uma política de comunicação suicida, que só ajudou a unir o Benfica. Por isso, defendo a ideia de que o Benfica deve muito o tricampeonato a si próprio e à estratégia de comunicação do Sporting.

O (alto) rendimento dos jogadores leoninos teve como consequência a manifestação de interesse de outros clubes. Foi assim que apareceram as propostas de contratação de João Mário, Slimani, Adrien e outras. O Sporting, por mais que queira perseguir o objectivo dos títulos como algo essencial e determinante no seu crescimento, numa lógica de aumento de custos e perante a pressão da banca e da UEFA (através do fair play financeiro), não pode fingir que o mercado não existe. Por isso, o problema não esteve na venda de Slimani e João Mário, e na saída de Teo Gutiérrez, mas na aquisição dos jogadores que iriam, supostamente, fortalecer o plantel. Em dois meses, foram muitas as aquisições e poucas as que acrescentaram valor. Talvez Jorge Jesus precise de mais tempo para alcançar esse objectivo, mas as competições não param. E a perda de Adrien, por lesão, foi o motivo mais próximo através do qual a ‘máquina’ começou a engasgar. Sem Slimani, João Mário, Teo Gutiérrez e ‘sem’ Adrien e William Carvalho (que quebra de rendimento!!!) e com os laterais a carburar menos em relação à última época, o Sporting deixara de poder contar com a espinha dorsal do conjunto que quase conseguira chegar ao título. Em compensação, apenas Bas Dost (mas com características diferentes das de Slimani) e um ‘cheirinho’, pouco, de Markovic. Nem Petrovic, nem Elias, nem Melli, nem Alan Ruiz, nem Campbell, nem André, nem Castaignos (acredito que este possa aparecer mais…) mostraram algo de verdadeiramente interessante. Gelson, Gelson, Gelson. Qual é a equipa que não se ressente de uma situação destas? O problema do Sporting, no plano desportivo, está nas aquisições.

Foi neste quadro, difícil, que o Sporting jogou em Dortmund. E que fez Jorge Jesus? Algo que abomina, como princípio: mexer no seu modelo de jogo, actuando com três centrais, mesmo sem Aubameyang do outro lado. Uma forma de tentar minorar o impacto de um futebol rápido e perigoso do Borussia. Não chegou (não se podem perder oportunidades de golo como aquelas que o Sporting criou), mas os leões fizeram um ‘bom jogo’. Em atitude e tacticamente. Faltou, talvez, com a entrada de Adrien, manter B. César (à esquerda) e tirar B. Ruiz e faltou prescindir de um dos três centrais ou, não o fazendo, colocar um deles na zona do ponta-de-lança, no período final do tudo ou nada.

Em conclusão: o Sporting está a querer fazer tudo depressa de mais e isso pode fazê-lo tropeçar em si próprio. O problema é que o presidente não tem forma de desacelerar. Vêm aí as eleições e esse é outro capítulo da estória.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)

Será uma tarefa tremendamente difícil separar o trigo do jóio nesta interessante crónica de Rui Santos, que me parece ser, no mínimo, uma boa base para reflexão. Não será fácil a nenhum sportinguista negar as "feridas", quanto mais os dedos que para elas estão apontados. Poderá haver aqui e além alguns pés de trigo cuja qualidade não seja a melhor. Mas se calhar, o jóio não fará, decididamente, parte da molhada que RS nos trouxe neste seu texto.

Pesem embora ainda em muitos sportinguistas as expectativas criadas em torno da avalanche de contratações que a última janela de mercado permitiu concretizar, o facto é que para além de Beto, Bas Dost e provavelmente Douglas, "nem Petrovic, nem Elias, nem Meli, nem Alan Ruiz, nem Campbell, nem André, nem Castaignos" aos quais com realismo e sentido prático não poderemos deixar de associar Markovic, se terão revelado até este momento sequer um razoável investimento. Na sua nova e original função de "manager", Jorge Jesus  terá falhado rotundamente e terá arrastado Bruno de Carvalho na sua queda, sem que a este seja justo atribuir mais do que uma residual percentagem das culpas do insucesso.

Já em relação a outras vertentes que poderão contribuir para explicar o momento menos bom que o Sporting atravessa, Bruno de Carvalho só com muito boa vontade e profundo estrabismo ou até ambliopia, poderá sair ileso, nomeadamente no que respeita à política comunicacional, na qual o Sporting parece nada ter aprendido, ao persistir numa "estratégia de comunicação suicida", cujos efeitos práticos terão contribuído de forma decisiva para entregar o último título de campeão aos rivais, que naturalmente aproveitaram, com reconhecida gratidão, ironia e gozo.

Só eu sei quanto me custa partir para este reconhecimento. Só eu sei a decepção que me invade sempre que se me deparam novos episódios dessa "cansativa, louca, estúpida e suicida investida comunicacional"! E parece que no universo leonino, haverá muitos mais a quem incomoda e decepciona a verve presidencial (LINK)...

Entretanto, os arautos da desgraça vão erguendo trombetas!...

Leoninamente,
Até sempre, Sporting Sempre!...

2 comentários:

  1. Boas,sigo este blog à algum tempo,apesar de concordar com alguns pontos de vista do "enorme lampião" Rui Santos, e também do vosso comentário ao que ele escreveu. Com o devido respeito, apenas digo... Mais uma vez este "gajo" com o seu ar de santo e também com capa de imparcialidade, consegue, principalmente na TV às 2ªs, e mais ainda às 3ªs feiras, denegrir (para não desconfiarem) umas vezes o Presidente do Sporting (o do benfica é um líder), o nosso treinador (o deles é melhor), os nossos jogadores (os do clube dele são todos um "must") e muito mais! Eu diria... Por acaso sabem em que lugar ficámos na "liga da verdade" (dele) o ano passado, e por acaso sabem, a quantos pontos estamos este ano dos outros? Basta estar um pouco atento às intervenções dele, e verificamos que de imparcial não tem nada, e sempre em prejuízo do mesmo, seja, penaltis, foras de jogo, faltas grosseiras, se um jogador está em linha ou não, e se o árbitro errou ou não, etc etc etc... Este sim... É o melhor ponta de lança que o rival tem! Cumprimentos e Saudações Leoninas

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    1. Com o devido respeito pela opinião do caro Alexandre Carvalho, discordo do tom absoluto e peremptório do seu pensamento, no que se refere à caracterização e aos afectos do jornalista em causa. As razões que depois invoca para de certa forma justificar a sua posição, até poderão conduzir, aparentemente, os mais incautos ao ponto que lhe interessa demonstrar, mas haverá outras tantas, quiçá mais ainda do que aquelas que enumera, que facilmente as anulariam. Não vejo em Rui Santos o diabo com que o caro leitor acena e anima-me a convicção que se fosse ele o padrão do jornalismo português, outro galo nos cantaria e não assistiríamos à podridão e subserviência aos "ddts" a que assistimos na nossa comunicação social.

      Como tema para sua reflexão sobre afectos clubísticos do citado jornalista, sugiro que se informe em profundidade sobre a sua saída do jornal A Bola. Penso que será suficiente...

      Cumprimentos e SL

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