«Ainda a semana passada aqui se escrevia que o talento das novas gerações de internacionais nos deixava descansados quanto ao futuro pós-Ronaldo. E eis que a Covid 19 impôs uma situação inesperada de ausência ao semideus português.
É uma maravilha ver o futebol que jogadores como Diogo Jota, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e até William Carvalho conseguem desenvolver no meio-campo contrário. Só o perfume de João Félix tarda em chegar. Este miúdo é um talento ímpar, como se vê em pequenos detalhes na forma como faz circular a bola. Mas está sem fulgor. A ausência de explosão, o débil poder físico, a incapacidade de aceleração não podem ser assacados ao técnico argentino que o recebeu no Atlético de Madrid. Félix está a falhar golos e a perder lances por falta de capacidade física. Terá de decidir com urgência se quer ser candidato a melhor jogador do Mundo, ou se é só mais um, que nasceu brindado com um dom raro e o desperdiça por falta de capacidade de sofrimento no trabalho árduo.
Nos antípodas de Félix está Diogo Jota. Tem subido na carreira a pulso, com humildade e sacrifício. Ontem provou a Fernando Santos que deve contar sempre com ele para o onze. Diogo Jota não pode ser prejudicado por não ter postura de estrela. Jota é um carregador de piano, sempre em ebulição, que, chegado perto da baliza contrária, pousa o instrumento e arranca das teclas inesperados recitais.
Para que os artistas possam estontear os adversários na frente, e os laterais logrem subir com segurança, Fernando Santos elegeu dois jogadores fabulosos, dois armários, Danilo e William Carvalho, para o embate frontal com os médios contrários. Quais porteiros de discoteca, William e Danilo filtram as entradas na zona de perigo. William tem mostrado enormes progressos na condução de bola. Joga mais adiantado do que Danilo, o que permite momentos de pressão alta muito empolgantes. Se William conseguisse pulmão para recuar um pouco mais rápido para a linha de Danilo, quando os adversários passam as linhas de pressão, tornar-se-ia um jogador sem preço.
Na defesa, Pepe está um mestre que já nem exagera na pancada ostensiva. A cada jogo, vai-se eternizando mais e mais como um dos maiores centrais de sempre.
A baliza continua bem entregue a Rui Patrício, que ontem brilhou com defesas difíceis, feitas com a austeridade de gestos da maturidade.
O prazer que hoje dá ver a nossa Selecção deve-se à estabilidade da equipa federativa liderada por Fernando Gomes, e principalmente à personalidade de Fernando Santos. Um treinador tão exigente quanto humano, que os jogadores admiram e estimam. Ninguém quer decepcionar ‘O Velho’. Com este ambiente, podemos aspirar a vencer qualquer prova.»
Custa-me a acreditar que tenha sido aquele Octávio Ribeiro que há tanto tempo todos nós, sportinguistas, conhecemos, a escrever esta crónica!...
Será por não estar nesta selecção, de momento e por enquanto, um único jogador do Sporting?! Já não faltará muito tempo, mas sempre quero ver...
Quando voltarem a estar!...
Leoninamente,
Até à próxima
Quem mais se encontra familiarizado com artigos de opinião deste Sr, de facto só pode estranhar e muito, porque desta vez conseguiu escrever de forma isenta, desprovido da sua intimidade e simpatia clubista e com sensato sentido crítico. ou seja, desta vez conseguiu ser e fazer jornalismo.
ResponderEliminarQuando assim é. ...
SL
Estou impressionado. De facto, custa a crer que o assinante e o autor são a mesma pessoa.
ResponderEliminarSó discordo nos "progressos de condução com bola" do William. O William já é mestre em sair com a bola de zonas de pressão desde 'sempre'. Simplesmente, agora, ao ter Danilo nas costas, tem muito mais liberdade para subir.