Quem quer casar com um ex-banqueiro?
«A entrevista de José Maria Ricciardi concedida a este jornal e publicada na passada quarta-feira é a prova de que o Sporting não consegue travar ou fazer uma pequena pausa que seja nesta sanha de autodestruição.
Não são necessários adeptos e muito menos figuras de referência de outros clubes para enfraquecer a imagem do Sporting e diminuir as suas possibilidades num contexto de afirmação desportiva. Têm sido os ‘sportinguistas’ os maiores inimigos do Sporting.
Já não bastava haver quase 100 mil sócios com quotas em atraso e, portanto, sem contribuir para o ‘bolo’ do interesse do Sporting. É preciso adicionar outros ingredientes, seja através de pitadas de elitismo ou populismo, para que o fermento da autofagia cresça sem parar.
Há poucos mais de 6 meses, o clube de Alvalade elegeu um novo presidente, Frederico Varandas, com 42,32% dos votos, superiorizando-se a João Benedito, que alcançou 36,84%.
Em terceiro lugar ficou José Maria Ricciardi (JMR), com 14,55% dos votos, com os restantes candidatos a registarem resultados residuais.
No final de 2016, JMR fazia parte da Comissão de Honra de Bruno de Carvalho, com vista às eleições de Março de 2017. Um ano depois, sensivelmente, retirava-lhe o apoio e demitia-se do Conselho Leonino.
Antes, JMR era conhecido por ‘presidente-sombra’, seja lá o que isso significa na prática — e foi por isso que, na melhor das intenções, o convidei a explicar, publicamente, em que se traduziu a sua influência na tentativa de resolução dos problemas do Sporting. Era importante perceber, sem sofismas, a génese dos apoios que foi concedendo a diversas presidências do clube de Alvalade.
É que, sem essa explicação, JMR contribui para o crescimento da ideia de que andou perto do poder — se não for heresia considerar que existiam outros poderes paralelos ao seu poder como ‘poderoso da banca’ — para preparar, no tempo que mais lhe aprouvesse, e no quadro das suas estratégias e projectos pessoais, a chegada à presidência do Sporting.
Já todos percebemos que, na óptica de JMR, esse tempo chegou, o que é legítimo, e por isso se apresentou a eleições. Mas perdeu. A verdade, porém, é que, no ciclo imediato pós-eleições, JMR não parou de fazer campanha. Como se o período de governança se esgotasse num mês ou como se os resultados eleitorais não tivessem qualquer significado e fossem achados através de uma qualquer fraude eleitoral, própria de um país sem regras e que não apelasse às mínimas regras de escrutínio, no espaço público ou privado.
Ainda Frederico Varandas não se tinha ajustado aos ‘sapatos de presidente’ e já JMR estava decidido a não dar tréguas na sua batalha. Nenhum benefício da dúvida, nenhuma tolerância para deixar que Varandas e a sua equipa pudessem mostrar algum trabalho, nada vezes nada. O que, convenhamos, não parece um comportamento muito democrático.
José Maria Ricciardi parece desvalorizar o facto de o Sporting ter entrado no último combate eleitoral numa situação de absoluta singularidade e precariedade. Uma equipa destruída no seu orgulho, jogadores puxados para baixo no estímulo e na estabilidade emocional (tão necessários na alta competição), adeptos tratados como inimigos, perseguidos como se fossem alvos a abater numa guerra pela sobrevivência, uma destituição com tanta gente a revelar a verdadeira face e dando nota do que são capazes de fazer para justificar o injustificável, um ex-presidente a publicar um livro para tornar mais evidentes os despojos dessa guerra fratricida, enfim, um cenário que, mesmo para transformar numa obra cinematográfica recheado de tensões e dramas, seria necessária (se não houvesse suporte em factos reais) uma grande dose de imaginação e loucura.
Esta entrevista de JMR era tudo o que o Sporting, como instituição (independentemente de quem é, neste momento, o presidente), e na conjuntura actual, não precisava. Não é que Frederico Varandas não possa ser criticado pelas suas decisões (nunca a crítica foi tão fácil e acessível, por força do efeito das redes sociais), mas quem foi eleito democraticamente por um mandato de quatro anos mereceria ser protegido por um mínimo de bom-senso.
Falar agora de uma injecção de 200M€ (estas operações nunca são explicadas e valem o que valem no momento em que são anunciadas), de investidores estrangeiros, de novo treinador e de novos jogadores, não é servir o Sporting; é servir uma ideia de ambição pessoal, completamente fora de tempo.
Neste contexto, servindo-nos de um conhecido programa de TV na área da agricultura, há… quem queira ‘casar’ com um ex-banqueiro? O problema do Sporting é que, seja qual for o contexto, há sempre pretendentes…
O Sporting está como está porque o umbiguismo tem sido maior do que o sportinguismo dos ‘sportinguistas". E assim é impossível governar. Assim, só é possível queimar o que resta da terra (já muito) queimada.
NOTA - Tão pobre o futebol do Sporting, ontem, em Alvalade. Inaceitável.
JARDIM DAS ESTRELAS *** (3 estrelas)
O poder tem medo?
A extradição de Rui Pinto vai consumar-se (sem surpresa) mas este caso é um grande desafio ao edifício da justiça portuguesa. Queremos saber se Rui Pinto cometeu algum crime, mas queremos saber se a justiça vai fundo sobre o que Rui Pinto ajudou a denunciar, no mundo (marginal) do futebol.
O ‘delete’ a Rui Pinto não pode ser a solução para proteger os (mais) poderosos.
O CACTO - Boas e más venturas
O jogador Lionn, ex-Rio Ave, afirmou em tribunal que um empresário "tentou comprar-me para o jogo com o Benfica". Uma afirmação destas, feita sob juramento, não pode ser desvalorizada nem mais uma vez ser relativizada— como convém a muita gente — ou atirada para os meandros da ‘guerra’ Benfica-FC Porto. É uma acusação grave, e a justiça desportiva não pode ficar postada à janela a assistir a este indecoroso espectáculo. A justiça desportiva existe para fazer o seu trabalho e estes processos não podem ficar eternamente na gaveta, à espera não se sabe bem do quê. Há 3 jogadores a dizer que foram aliciados, e neste particular não interessa se estavam lesionados ou convocados… O que interessa apurar é se foram ou não foram, apesar da eventual dificuldade da obtenção da prova… O que parece evidente é que há um intermediário constantemente metido em casos altamente suspeitos e o nome do Benfica vem sempre à baila… O Benfica diz que ‘desconhece’, mas ninguém pode negar que o intermediário tem utilizado o nome do clube encarnado como seu escudo protector… Não seria de supor uma intervenção mais enérgica do clube da Luz perante um intermediário que devia ser conhecido provavelmente por acções reconhecidas e não por todas estas confusões em que se vê envolvido?
Há claramente ‘desprotecções protegidas" como é o caso de Paulo Gonçalves (hoje, agente de jogadores) e agora este caso de ‘venturas desaventuradas’. Porquê?»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Serão poucos, muito poucos mesmo, os jornalistas que actualmente em Portugal e para além de Rui Santos, se revelem capazes da coragem e do descomprometimento com que este afronta o pântano em que vegeta o triste e pobre futebol português, absurda e desgraçadamente coberto de feridas e chagas purulentas !...
Mas, nesta condição, será justo e legítimo pensarmos na singularidade do seu pensamento e na relevância das muitas opções que terá tomado ao longo da sua já longa carreira jornalística, quase exclusivamente virada para o futebol?! Decerto que, felizmente, nem será caso único no jornalismo desportivo em Portugal, nem, com qualquer de nós, seus leitores, algum dia poderá estar isento de críticas o seu trabalho. São por demais conhecidas de todos, tanto a subtileza com que tem escondido ao longo de dezenas de anos os seus afectos clubísticos, tornando-os numa recôndita, quase perdida e remota ilha verde clarinha, quase água, quanto os seus óbvios e evidentes "ódios de estimação pluricromáticos". Afinal, aquilo que o distinguirá dos poucos que lhe imitam a passada, será apenas e tão só...
A coragem de afrontar o desconforto da Verdade!...
Leoninamente,
Até à próxima
Mas, nesta condição, será justo e legítimo pensarmos na singularidade do seu pensamento e na relevância das muitas opções que terá tomado ao longo da sua já longa carreira jornalística, quase exclusivamente virada para o futebol?! Decerto que, felizmente, nem será caso único no jornalismo desportivo em Portugal, nem, com qualquer de nós, seus leitores, algum dia poderá estar isento de críticas o seu trabalho. São por demais conhecidas de todos, tanto a subtileza com que tem escondido ao longo de dezenas de anos os seus afectos clubísticos, tornando-os numa recôndita, quase perdida e remota ilha verde clarinha, quase água, quanto os seus óbvios e evidentes "ódios de estimação pluricromáticos". Afinal, aquilo que o distinguirá dos poucos que lhe imitam a passada, será apenas e tão só...
A coragem de afrontar o desconforto da Verdade!...
Leoninamente,
Até à próxima
O problema de Rui Santos é..., são..., as entrevistas aos Vieiras desta vida que não condizem com estes 'tiranços' jornalísticos com os quais ninguém, de boa índole, pode discordar... Hipocrisia, falta de coragem, subserviências ou apenas 'jeitos'... É isso que aflige... Se os Rui's Santo's mantivessem SEMPRE a coerência ou a linhagem teriam em mim um indefectível defensor... mas sei, 'já me aconteceu', que na próxima semana virá certamente uma apologia aos títulos e às conquistas de quem alimenta os 'nomes que sempre aparecem quando falamos de corrupção'...
ResponderEliminarTriste... simplesmente triste este senhor...!!!