segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Jorge Jesus precisa de tempo e do nosso reconhecimento!...


Bombear bolas

«Pode uma equipa grande, que ambiciona um tricampeonato, passar a meia-hora final de uma partida a fazer jogo directo para um amontoado de avançados? Pode, mas não deve. Ora foi isso que o Benfica fez no domingo, a jogar, de facto, em casa, contra o Arouca.

Depois de mais uma péssima entrada no jogo, o Benfica recompôs-se e apresentou o melhor futebol desta temporada. Com Pizzi mais apoiado por Samaris, a equipa cresceu, voltou a ter jogo interior consequente e regressou o caudal ofensivo. Foram 25 minutos à Benfica que pré-anunciavam a recuperação do resultado.

A vitória não estava, contudo, garantida. O futebol é imprevisível: uma equipa pode estar a jogar bem, a controlar a partida e, no fim, o resultado pode não ser satisfatório. Mas no futebol, também é sabido, compensa manter a fidelidade a uma determinada ideia de jogo. O que não compensa é suspender essa ideia e, em seu lugar, escolher o recurso dos que não têm mais recursos - o jogo directo e as bolas bombeadas para a área.

Pois foi isso que o Benfica fez na meia-hora final, deitando fora o que estava a fazer bem até aí. A partir de certa altura, com dois postes dentro da área mais uma mão-cheia de alas e avançados, o jogo resumiu-se a cruzamentos longos, condenados ao fracasso, devidamente combinados com dezenas de remates sem critério de meia-distância. Posso estar enganado, mas não conheço na última década uma única equipa que tenha sido ganhadora a jogar assim. Contra o Arouca, pior que a derrota foi o sinal táctico dado naquele último terço da partida. Espero não voltar a ver.» 
(Pedro Adão e Silva, A luz intensa, in Record)



«As alterações à equipa deixam dúvidas quanto ao futuro. O Benfica não pode perder a possibilidade de se adiantar, não pode ter uma prestação como a de ontem e como as que tem feito.[...] 

Estou surpreendido, de certa forma, com o início de campeonato. A forma como a equipa tem jogado faz acreditar que falta olho clínico a Rui Vitória, isto sem querer dizer que não estou de acordo que seja o treinador do Benfica, porque estou de acordo e reconheço qualidades. No entanto, a equipa tem de ter outra conduta dentro de campo. Não pode sofrer golos aos dois minutos e dar a oportunidade ao adversário de ampliar a vantagem. [...]

Não sofrendo golos, não perdes. Isto é fundamental. Primeiro vem a defesa, depois o meio campo. Jogar com muitos avançados confunde a equipa e é um trunfo para o adversário.»
(José Augusto, in O Jogo)


Afinal Jorge Jesus, pesem embora todas as limitações culturais, comunicacionais e da mais variada índole que por inveja ou ressabiamento lhe pretendam atribuir, é um doutor!...

E como doutorado numa das ciências que à escala planetária mais criaturas, meios, interesses e milhões faz pulsar, disse com o saber bebido na universidade da vida e da competição desportiva que abraçou, depois de saltar o arame farpado do campo de concentração onde julgaram ser possível "exterminá-lo" e quando confrontado se a razão do êxito do clube que até então havia representado estaria ligado à tão auto-incensada e auto-proclamada estrutura, disse, sabiamente: "a estrutura nesse clube era eu e sem cérebro, tudo vai definhar, cabendo apenas ao tempo estabelecer quanto tempo demorará a fenecer tudo aquilo que por lá deixei".

Tão violenta quão terrível premonição, parece ter precisado menos de dois meses a confirmar-se. Pela pena e pela boca de dois dos mais prestigiados e indefectíveis adeptos do clube em causa: um do alto da cátedra a que sua capacidade intelectual o terá guindado, outro do alto do prestígio que um grau de doutoramento em tudo igual ao de Jorge Jesus lhe permitiu granjear.

Trouxe para aqui e agora, este tão actual e melindroso tema, de modo algum para escarnecer da desorientação e do descalabro que parecem querer tomar conta do vizinho do outro lado da rua - será o lado para onde dormirei melhor. Importante para mim será tão só e apenas lançar um alerta a todos os sportinguistas que vi de beiça caída no último sábado: Jorge Jesus também tem defeitos! E terá um que se sobreporá a todos os muitos que com toda a certeza lhe rechearão o carácter: convive demasiado mal com a ingratidão, nomeadamente daqueles que há pouco mais de um mês o vitoriaram em Alvalade.

Jorge Jesus regressou ao seu e nosso Sporting, para um projecto a prazo. Obviamente que não terá sido apenas o coração a empurrá-lo para tamanha e importante decisão. Mas a hipocrisia não morava no brilho dos seus olhos nessa noite mágica em Alvalade. 

Não deve, nem nunca poderá ser o empate de sábado ou qualquer eventual inêxito futuro, mesmo que aconteça daqui a dois dias, a coarctar o projecto a prazo que com determinação e entusiasmo aceitou. Muito menos a ingratidão com a qual todos temos tido oportunidade de constatar nesta recente e surpreendente travessia de rua, conviverá muito mal.

Que todos os sportinguistas saibam compreender o que é um projecto a prazo, apesar da desdita que, embora circunstancialmente, apenas Paulo Bento contrariou! Jorge Jesus precisa de tempo!... 

E do nosso reconhecimento, nas derrotas e nos empates, tanto ou mais que nas vitórias!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Amigo Álamo, adorei o seu texto, é isso mesmo que nós sportinguistas temos de fazer, apoiar o nosso treinador nos bons e nos maus momentos, sobretudo nestes, pq tenho a certeza, que é o melhor treinador actual em Portugal, de mim vai ter todo o apoio, ainda que à distância.....

    SL

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    1. Obrigado amiga Leoa Maria. Penso exactamente o mesmo de JJ, minha amiga. E para além de toda a sua capacidade e valia técnica, é flagrante o grau de compromisso que evidencia para com o Sporting. Mas, infelizmente, não faz milagres. O Sporting terá de enfrentar, obrigatoriamente, momentos menos bons! O futebol é assim mesmo e nunca poderá ser em dois ou três meses que a equipa ganhará a solidez e a mecanização que lhe garantam uma maior probabilidade de vitórias. E foi doloroso olhar no sábado para certas beiças leoninas, que julgam que num estalar de dedos tudo se consegue!...

      Mas cá continuaremos na nossa luta, incentivando e alertando para os naturais "desfalecimentos"...

      Abraço e SL

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