Os putos 
Uma bola de pano, num charco 
Um sorriso traquina, um chuto 
Na ladeira a correr, um arco 
O céu no olhar, dum puto. 
Uma fisga que atira a esperança 
Um pardal de calções, astuto 
E a força de ser criança 
Contra a força dum chui, que é bruto. 
Parecem bandos de pardais à solta 
Os putos, os putos 
São como índios, capitães da malta 
Os putos, os putos 
Mas quando a tarde cai 
Vai-se a revolta 
Sentam-se ao colo do pai 
É a ternura que volta 
E ouvem-no a falar do homem novo 
São os putos deste povo 
A aprenderem a ser homens. 
As caricas brilhando na mão 
A vontade que salta ao eixo 
Um puto que diz que não 
Se a porrada vier não deixo 
Um berlinde abafado na escola 
Um pião na algibeira sem cor 
Um puto que pede esmola 
Porque a fome lhe abafa a dor. 
José Carlos Ary dos Santos
Leoninamente,
Até à próxima

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